terça-feira, 21 de dezembro de 2010

HoHoHo!!!

Natal e viagem chegando, ansiedade triste. Marquinho de férias em casa e eu morrendo de inveja dele. Ainda tenho quase dois longos dias de trabalho pela frente, sendo que amanhã estarei em cliente dando treinamento. Seria melhor se não fosse em Jurubatuba, ônibus/metrô/ três trens pra ir, outro tanto pra voltar, e se os funcionários não fossem ensandecidos, um querendo comer o fígado do outro, espírito cristão do outro lado da Marginal. 

Nossas malas estão prontas, eu doida de vontade para desligar geral, de não ter hora pra acordar, de não ter que pegar metrô, de não ter que aguentar cliente esquizofrênico, de não ter que contar calorias na hora do almoço... Salvador pegando fogo, Cecília & Cia. lá desde sexta passada, cada hora uma novidade de onde estão ou do que estão fazendo. Ligando por segundo ou pra dizer que a água de coco acabou e que estão indo no São Joaquim comprar outra carrada, ou simplesmente pra reforçar que o calor tá brabo e que é pra gente se preparar pra andar quase pelado. Uma boa referência é que até banho frio dona Júlia já tomou. Ou seja. 

Bom, pelo menos Papai Noel pode me tirar da lista dessa vez: como ele foi muito bonzinho comigo em 2010, dispenso o meu presente. Acostuma não, viu, moço?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Por quê?

Uma pessoa muito querida - simplesmente maravilhosa, diga-se de passagem - descobriu, sem mais nem menos, que está com um tumor no cérebro e que só lhes restam algumas migalhas de dias pela frente.

Como pode? Todos que o conhecem estão perplexos e sem acreditar que aquele jovem senhor, de porte atlético e aparência saudável, que joga tênis nas horas vagas e passa as tardes tomando chá, pode dormir hoje e não mais acordar.

Só soube de sua sentença porque sentiu uma dor de cabeça mais forte e foi parar na emergência, ali fazendo uma batelada de exames que, no caso dele, não foram lá muito úteis. Afinal, de que adianta ter dinheiro, descobrir uma coisa dessas e a equipe médica dizer na sua cara que não dá nem pra começar tratamento, que o negócio é sentar e esperar a morte chegar?

Fico tentando comparar o seu sofrimento com situações que parecem ser similares – estar no corredor da morte, ser judeu no holocausto ou vítima de bala perdida. Ele está vivo, não se sabe por mais quanto tempo, mas todos que estão à sua volta já estão meio mortos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Seja rico ou seja pobre

Eita que Natal já tá nas bucha, o maior vuco-vuco na cidade, Jingle Bell pra tudo que é lado. Apesar de ainda não ter dado a pintada básica de fim de ano lá em casa, já pendurei uma guirlanda na porta, uma que Marquinho achou sabe Deus onde, talvez lá onde ele guarda as maluquices dele. 

Também já comecei a montar os looks de férias, já que Salvador é Salvador, né, mermão? Calça, nem pensar. Sapato fechado, idem. Shorts, muitos, um de cada cor e pra cada dia que passarei lá – total de sete, muito pouco, mas é melhor que nada. 

A lista de presentes também está feita, se é que podemos chamar de presente, de lembrança ou de vaga lembrança algo que custe menos do que dez reais e vá ser comprado na 25 ou no Brás. Também os amigos secretos, vários, galera dizendo o que quer receber (taí uma coisa que não entendo, mas deixa pra lá).

Sem contar a emagrecida básica pré-festas (se não quiser ficar com o dobro da barriga que tenho hoje), os scraps em massa e impessoais que não param de chegar de gente que eu sequer lembrava que estava na minha lista, perêrêparará, etc. 

Acho que uma das coisas realmente legais do cristianismo é isso: fazer com que os simples mortais se mobilizem, pelo menos uma vez no ano, para lembrar que a vida ainda é bela.

Total Eclipse of the Heart

Hoje eu realmente acordei com vontade de fazer nada. Um desânimo horroroso, há muito tempo não me sentia assim. Coloquei o celular pra despertar de cinco em cinco minutos até eu ter coragem de levantar da cama. 

Ontem, assistindo Glee - minha nova paixão - ouvi uma música que me fez lembrar de um vexame que passei assim que cheguei em São Paulo. Ah, um dentre muitos. E daí que a imaginação voa e um vexame puxa o outro, até eu lembrar de um dos primeiros que dei na vida, quando eu tinha uns sete anos, acho. 

E com essa história toda, eu, que já estava meio mal com a prova que perdi na sexta, me senti um trapo de gente. Que vergonha quando lembro de tanta coisa boba que falei pra pessoas que sabiam que eram bobas e riram da minha cara – e eu que achei graça, pensando que estava fazendo sucesso. 

Me meti onde não fui chamada alguns pares de vezes sem perceber que estava mesmo era fazendo papel de ridícula. Falei um monte de coisa que ouvi em novela ou da boca de alguém como se fosse ideia minha – era só reprodução do que eu tinha achado bonito e não tinha tido a inteligência necessária pra ter pensado antes. Fora as tentativas de ser engraçada, alto-astral full time, blábláblá. 

Isso tudo por causa de uma música, meu Deus!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Trainee

Lá estou eu toda prosa no meu amado cliente dando treinamento dos módulos bancário e financeiro - dois calos na minha vida, diga-se de passagem - quando um dos usuários me faz uma pergunta cabeludíssima, daquelas que nem aluno sacana tem coragem de fazer pra professor novato. 

O que a madama aqui fez? Parou de respirar por 5 segundos, fez cara de parede, ficou meio bege e disse, na maior cara de pau do mundo: “Nossa, você acredita que me deu um branco agora? Vou checar com um consultor expert em contabilidade na hora do almoço e depois a gente retoma”. 

Adiei problema, of course. Depois do almoço, não satisfeita com a lambança toda, disse com cara de bebê pompom e de consultora ultra-experiente: “Ainda não consegui falar com o meu colega, mas na quinta estarei aqui com todas as respostas pra vocês”. 

Ainda bem que não faço compras parceladas...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quanto mais eu rezo...

Bonitinho quando uma fulana te liga depois de trocentos mil anos, te chamando de amiga, cheia de segundas intenções, né? Fomos colegas de trabalho em janeiro, por apenas um mês e ela já se achava íntima, unha e carne comigo. 

Sabe esse tipo grudento de gente? Era ela. Ao contrário do que parece, eu tenho lá as minhas reservas, não é pra todo mundo que eu abro os dentes. Ela perdeu muitos pontos comigo ao confessar que traía o marido e que não separava pela comodidade de dividir as despesas. 

O tempo passou, cada uma foi pro seu lado, até tirei ela do meu Orkut. Há uns três meses me ligou, como se tivéssemos nos visto uma semana antes, dizendo que estava desempregada, pedindo pra me mandar um currículo. Não gosto nem um tico de gente assim. Sumiu de novo e hoje ligou com a cara mais lavada do mundo, perguntando por que eu sumi, dizendo até que ficou preocupada comigo. Perguntou o meu e-mail de novo e disse que ia me mandar – de novo – um currículo, pois estava – de novo - desempregada. 

Tratei tão mal que nem eu mesma acreditei. A cara de pau não se deu por vencida e ainda soltou essa pérola: “Vamos marcar algo, viu, Cy”? 

Valei-me meu Senhor do Bonfim!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Foras

- Nossa, Marcelo, que senha ridícula essa. 

- É? Fui eu que criei.

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- Flávia nem parece taurina, né, Rao? Toda elétrica e todo taurino é meio lerdo. 

- Eu sou taurino, meus dois filhos e minha nora são.

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- Conta aí como foi a comemoração ontem à noite!!! 

- Não teve, o meu marido está desempregado.

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- Luciana Gimenez com aquele tampa de binga do marido dela, só porque ele é montado na grana. 

- Minha namorada é quase cinco centímetros mais alta do que eu.

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- E aí, Rao? Vai torcer pros seus conterrâneos hoje?

- Eles não estão na copa, eu nasci na Indonésia.

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

02.11.10

- Marquinho, foi você quem levantou a tampa do vaso?

- Se só somos nós dois aqui, não fui e não foi você...

Dormi com a luz do corredor acesa.

Cyn-pática

E cliente que só funciona na base da missa de corpo presente? Tem esse da Lapa que não só é carente como sacana: o tempo que gasto no trânsito indo e voltando de lá, produziria muito mais entrando remotamente no servidor dele.

Tem o do Bom Retiro, que na maioria das vezes eu não tenho a menor ideia de como se resolve o problema dele, mas tenho que ir lá cada vez que o meu chefe ou outro consultor vão. 

Segundo um colega que tem mais de dez anos na área, eu tenho um defeito: não sei fazer cara de má. Disse que era pra eu praticar no espelho do banheiro, fazendo careta e mascando chiclete. 

Se funcionar, vai servir pra muita coisa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Arroba ponto com

Tudo começou com uma brincadeira minha abrindo uma conta do Gmail para Painho. Eu não imaginava que ele tivesse levando tão a sério o que acabava de aprender. 

Mais na brincadeira ainda, dei a ele de presente de aniversário um pendrive - aí sim o bichinho pirou na batatinha. Queria levar o brinquedinho para tudo que era lugar. Voltou pra Salvador e, não satisfeito com toda novidade que tinha aprendido, comprou um notebook e passou a mandar e-mail pra todo mundo, deixando de lado o até então inseparável celular. 

Gtalk então virou obrigação diária para ele. Achei muito bonitinho dar essa evoluída repentina aos 60. Está todo ansioso para aprender todos os mistérios do mundo cibernético, se mostrando até um excelente usuário. 

Quem entrou ontem na mesma onda foi Mainha. Ninguém segura mais esses dois.

Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma

É, o metrô continua sendo a minha fonte principal de inspiração. Vejo de tudo, até porque vou quase de uma ponta a outra da linha azul todo santo dia. 

As figuras que mais gosto são os dorminhocos: metem o MP alguma coisa no ouvido, encostam na janela e babau. Só acordam na estação que vão descer. 

Tem outra galera que eu mais invejo do que gosto: os que conseguem ler sem ficar tonto. Alguns até fazem isso de pé, maior prova de equilíbrio que já vi na vida. A única ressalva é que não tem muita noção de espaço e quase sempre metem o livrão na cachola de quem está por perto. 

O que dizer então de quem entra com duas crianças pequenas, acha almas caridosas que saem dos respectivos lugares para que a pobre mãe se acomode melhor e a imbecil coloca os filhotes sentados, um em cada lugar, como se estivesse fazendo a coisa mais sensata do mundo? Semana passada eu morri de rir com uma fulana da ala das mulheres-que-acordam-atrasadas-e-deixam-pra-se-maquiar-no-vagão: a demente sacou o rímel, bem na hora que o metrô pegou aquele embalo de 300km por hora e, claro, ficou com a cara toda borrada de preto. Será que aprendeu?

Imagina?

Comecei a entender o que é amor de mãe depois que minha sobrinha nasceu. Eu não quero que nenhum mal chegue até ela, fico aflita quando ela chora sem motivo aparente e me derreto toda quando ela me abre o maior sorrisão. Imagina se fosse minha filha?

A bichinha ontem passou por um perrengue danado, deu o maior susto em todo mundo, até agora não conseguimos esquecer. A minha vontade era que tudo o que ela estava sentindo passasse pra mim para que pudesse dormir em paz e sem dor.

Já até censurei minha mãe pelos absurdos que fazia com a gente quando criança: ficava horas e horas acordada vendo as filhotas dormirem – achava que se virasse as costas íamos ter algum ataque- fora ter deixado de trabalhar, não me deixar ir pra lugar nenhum se não fosse com ela, blábláblá.

Eu faria tudo cem vezes mais, sem sombra de dúvida.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Como pode?

Daí que estou ficando uma mocinha e consegui fazer a bendita ressonância na sexta passada. Agora, de uma vez por todas, vou saber se os meus chiliques são neurônios brigando ou parafuso solto mesmo. 

Enfim, um alívio depois de conjecturar semanas e semanas sobre como eu me portaria diante desse maldito exame. Eu já dava sinais de que queria ir além do que sempre considerei como meus limites: andar de avião só, morar só, andar em duas montanhas-russas no mesmo dia, tomar um porre daqueles e não lembrar de nada no dia seguinte, aprender a nadar, etc., etc. e tal. Mas esse lance da ressonância me deixou boquiaberta, orgulhosa da minha humilde existência nesse planeta. 

E olha que nem segui orientação médica de me entupir de calmamente antes de ir pra clínica. Só falta agora pular de paraquedas e mergulhar com tubarões.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Búúúú

Daí que tenho um colega que insiste em dizer que os aparentes problemas de saúde que ando tendo ultimamente são meramente espirituais. Eu estaria captando toda sorte de energia, sem controle para filtrar o que é bom do que não é, segundo ele. Outro dia anotou o meu nome completo, ia fazer não sei o quê por mim no centro em que dá palestra toda quinta-feira. 

Quer saber? Já tive muito medo de coisas sobrenaturais, de fantasmas, espíritos e afins. Hoje em dia, diante de tanta dor, seja na coluna, na cabeça ou no estômago e das minhas crises de despersonalização diárias, vou começar a apelar pra essas coisas paralelas pra ver no que vai dar. Até porque há um mês eu cismei que tinha visto um vulto roxo perto de Marquinho e dei aquele berro assustando metade do quarteirão. Não considerando que eu estava cochilando na minha cama, o quarto estava escuro, tinha uma toalha de banho roxa pendurada na porta e Marquinho entrou devagarzinho para não me acordar. 

Seja lá o que esteja acontecendo comigo, não está certo, não me faz bem, não consigo resolver com um Dorflex qualquer. Esse meu colega ainda não me abriu o jogo, mas vive me encarando de um jeito meio diferente, como se talvez estivesse vendo alguma errada que eu não esteja percebendo. 

Como diz minha mãe, se existem pessoas com aptidão para medicina e engenharia, por que não haveria gente com o dom de conversar com quem está do outro lado? Vai saber.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

I'll Be Watching You

E o Google Street, hein? Pra mim, que estou procurando imóvel, é uma mão na roda: além de ver o estado do dito cujo, ainda dou uma geral na região. Fantástico. 


Daí que começaram a surgir as histórias de invasão de privacidade: mulher que descobriu que o marido frequentava sauna gay porque flagrou carro dele entrando em uma pelo site, imagens que foram feitas após acidentes de trânsito ou crimes, um festival de bizarrice que o povo não só inventa como aumenta.

Pena que Salvador não tem ainda. Ótima pedida para dar uma fuçada básica naqueles lugares que só a gente conhece.

Modernidades

Outro dia um amigo meu disse que achava que não existiam mais cédulas de dinheiro rabiscadas porque as pessoas migraram seus protestos para os comentários de notícias na internet. Até as portas de banheiros públicos estão espantosamente sendo poupadas, segundo ele.

A desvantagem é que o espaço usado no dinheiro era bem menor que a dos sites, o que deixava um gostinho de "ah, acabou e ele não conseguiu dizer tudo" no ar. O que dizer então do charme das letras inteligíveis? E das declarações de amor a algum cobrador lá de Jebejebe de Dentro? E dos bigodinhos, chifrinhos e afins que não só revelavam gênios das criatividade como também exímios desenhistas?

Era bem mais legal, sem dúvida.

Alguma coisa está fora de ordem

E não é que tive um surto intelectual e comecei a acompanhar “A Fazenda 3”? Me vi torcendo por Sérgio Malandro, dando risada com Nanny People e votando para que Monique Evans fosse a eliminada da semana. Comecei a ver Geisy Arruda com outros olhos e a achar que Carlos Carrasco é o gay tiozinho mais fofo de todos os tempos. Preocupante.

A notícia boa é que deixei isso de lado e agora estou acompanhado “A Gata Comeu” pelo You Tube. Já estou no capítulo 15.

Older

Maior tristeza quando a gente pega o livrinho da Avon e vai direto na página do Renew. Além do bicho custar os zóio da cara, o meu não é mais 25+. A vendedora não sabia o que dizer quando eu perguntei se o meu era até 35 ou 35+. Tadinha, nada a ver com as minhas crises existenciais e ainda levou uma fuzilada de olhar. 

E dietas? Antigamente eu perdia um quilo assim, sem mais nem menos. Bastava não almoçar um dia e o ponteiro da balança despencava imediatamente. Eu até espalhava que as vezes que fiquei acima do peso foram por pura sem-vergonhice. Hoje é assim: eu paro de comer doce, como um monte de folha no almoço, me entupo de barrinha de cereal light e o que ocorre? Apenas não engordo, mas perder que é bom, necas.

Daí que vou pra Salvador no final do ano e não quero fazer feio. Afinal, inverno em São Paulo é um convite à obesidade e minha barriga deu uma pulada depois que me vi sem os casacos pesados que usei durante mais de três meses de frio. Cadê que madama emagreceu cinco gramas depois de uma semana só na água e no ar?

Assim sendo, diante da urgência em ficar com cara de coroa magrelinha, me rendi aos encantos da ração humana, com um certo atraso em relação à onda que se alastrou no início do ano. E não é que a danada parece que funciona? Se misturar com iogurte de ameixa, mata vários coelhos de vez.

Pra variar, já virei piada no trabalho: disseram que agora, além de latir, eu vou morder.
Pit-bull na área, galera.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Malditas fibras

Apuro é estar em cliente dando treinamento para a diretoria e, bem na pausa para o café, dar aquela dor de barriga dos infernos e te obrigar a ficar mais de quinze minutos no banheiro. E o seu celular se estatelando de tocar no outro lado da sala e geral perguntando onde você está. E voltar como se nada tivesse acontecido.

Cabeça virada

Duas horas de viagem até o cliente, que fica na Lapa, pertíssimo da 12 de Outubro, perdição das compras número 3 no meu ranking paulistano. Estava com um texto prontinho na cabeça, era só sentar e mandar bala. Só que entrei numas dez lojas até chegar aqui e o bendito ficou pelo meio do caminho. Quem encontrar, favor devolver.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lelé

Tive a minha primeira crise existencial aos dez, onze anos, se não me engano. Estava de férias em Camaçari, era noite e estavam todos conversando e rindo alto na varanda de casa, enquanto eu passava apuros em um dos quartos - tive uma espécie de black-out e passei a não reconhecer as minhas mãos, o meu nome, a minha voz. 

O negócio foi meio punk e custou a passar – fiquei alguns dias nessa neura, mas depois esqueci. Há um mês essa maluquice voltou a me importunar. Desta vez fui mais esperta e comecei a abrir o jogo com a galera que me rodeia – vai que acordo com amnésia e o povo não acredita? Falei também pro médico que me acompanha há quase dois anos. Ele ficou desconfiado de umas coisas e mandou eu fazer uma batelada de exames, incluindo ressonância e mapeamento cerebral. 

Ainda bem que não tenho mais medo de ter problemas, de falar de problemas, de parecer ser um E.T. Algumas esquisitices minhas são até personalizadas - um luxo para poucos, sem sombra de dúvida. Não fico mais remoendo, imaginando, teorizando coisas. Imagina eu com 40...

domingo, 5 de setembro de 2010

Hora do recreio

Pra que serve mesmo uma coleção? Eu já colecionei sabonetes de hotel, canetas de propaganda, guardanapos personalizados, tartarugas. Todas essas manias começavam meio que sem querer, tornavam-se públicas e todo mundo acabava entrando na brincadeira. 

Tinha um colega de faculdade que toda segunda-feira me dava um sabonetinho ou uma caneta, fruto do seu domingo em uma das mansões do Del Rey, do Playboy, do Hollywood. E eu sempre protestando, dizendo que deveriam ser de hotel com H e não com M - e ele rindo da minha cara de pastel. 

Com as tartarugas, as pessoas encontraram uma forma fácil e barata de me presentear: de alemã a sergipana, feitas de plástico ou esmeralda, minha estante já comportou mais de cem. Quando aquilo não significava mais nada pra mim, minha mãe herdou a galerinha e eu achei que era uma tremenda de uma perda de tempo ficar juntando coisa sem sentido, dando trabalho na hora de limpar as prateleiras. 

O tempo passou e eu acreditei piamente que a minha fase de desequilíbrio mental já estivesse morta e enterrada. Ledo engano... foi só me deparar com uma papelaria linda, cheia de coisas fofas que não resisti a esses lapitchos em forma de bichinhos. Além de enfeitarem a mesa do trabalho, são um charme e fazem o maior sucesso quando eu os saco da bolsa. Porque sim, eu tenho problemas com lápis, lapiseiras, cadernos e cadernetas. E sim, já estou viciada. 

Na foto, falta o urso panda. Dá pra resistir?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tempo, tempo, mano velho

O ano de 2000 foi ontem e lá se foram dez anos. Como pode? 

Engraçado que naquele ano, quando eu olhava pra trás dez anos, tudo parecia mais distante e obsoleto. Talvez porque em 1990 eu tivesse apenas 15 anos. E com 15 anos a nossa vida é bem diferente de quando já caminhamos a passos largos pros 30. 

Se você convive com pessoas com menos de 25, fica tudo muito mais confuso: nós assistimos Ghost no cinema, no meu caso com o primeiro namorado. E lá se vão 20 anos!!! Ou seja, Ghost é hoje pra galera de 20 o que os filmes da década de 60 eram pra mim: filmes antigos.

Com novela, a mesma coisa: já estou na fase de ver sucessos da minha infância sendo regravadas com roupagem atual. E pensar que todo o enredo, trilha sonora e muitas das cenas de TiTiTi continuam vivos em minha memória. 

Pergunta que não quer calar: daqui a dez anos, como estarão as coisas? Quanto tempo será que vou achar que passou quando eu lembrar de 2010? E de 2000? Muito doido.

Uma como muitas

Tem gente que procura sarna pra se coçar, né? Conheço uma figurinha com uma história que a gente só vê em filme que fala da miséria humana: 19 anos, mãe solteira, diarista durante a semana e manicure aos sábados, acabou de entrar na justiça para que o pai de sua filha passe a ajudá-la no sustento da menina, de quase três anos. 

A criança frequenta uma creche municipal em tempo integral de segunda a sexta e vai para o salão com a mãe todo sábado, para desespero das clientes, já que o pai, que reserva o fim de semana para encher a cara, se recusa a ficar com ela. 

A mãe apareceu com uma conversa meio enrolada dia desses, que tinha reencontrado um amor do passado e que estavam dispostos a recomeçar, apesar dele morar em outra cidade. Na semana seguinte a história ficou mais atrapalhada ainda, já que o príncipe encantado foi vítima de uma bala perdida enquanto saía de um churrasco. 

Estava internado, mas não podia receber visitas de jeito nenhum. Também não podia receber ligações e ela só sabia do seu estado através da família dele. E essa história ficava confusa a cada semana que eu ia fazer minhas unhas, mas eu não deixava claro que sabia que muita coisa estava sendo omitida ou fantasiada. Ela falava, falava, falava, e eu e minha cara de pessoa ajuizada, sempre atraindo esse tipo de situação, ouvindo tudo com muita atenção e paciência. 

Sábado passado ela não aguentou e me contou a verdade: o fulaninho havia sido preso por estar dirigindo um carro roubado (“Coitado, Cynthia, ele não sabia” – e eu fiz cara de quem acreditou), mas não voltou pra cadeia em um desses indultos que recebem em datas comemorativas. Ou seja, foragido. Na saída do tal churrasco apareceu um do nada e deu três tiros nele, coisa encomendada mesmo. E ele está preso no hospital penitenciário, cumprindo pena e sem poder receber visitas ou falar por telefone. 

E ela caindo de amores, fazendo planos de quando ele estiver livre, mesmo se for confirmado que vai ficar paralítico, pois aí sim a vida dela vai tomar um rumo. Rezo para que seja o certo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A incrível capacidade de estragar o dia alheio

Que eu me lembre, tive três entrevistas de emprego catastróficas, contando com a de ontem, todas aqui em São Paulo. 

Numa delas, fui pega de surpresa para fazer um teste de Excel, o que não era muito minha praia na época, e acabei comendo sabão. Na outra, fiz o pior trajeto possível, debaixo de um temporal monstro, com calça clara, sobrinha quebrada, a chapinha indo pro beleleu e e eu chegando atrasada e com cara de Maga Patalógica. Mesmo assim me entrevistaram mas, pro nível do lugar, eu mais parecia uma candidata a bucha de canhão. 

E a de ontem. Ah, a de ontem. Eu estava animada e confiante por três motivos: primeiro, o meu professor da academia que fiz é um dos sócios da empresa. Segundo, fui indicada por um ex-colega. Terceiro, eu me saí muito, muito bem mesmo na primeira entrevista, que foi há quase um mês – a maior prova é que fui chamada para a entrevista técnica. 

Tirando a mágica que tive que fazer pra sair da Vila Mariana às 16h45 e chegar em Pinheiros meia hora depois, com o dilúvio que rolou aqui, as coisas pareciam muito bem encaminhadas. Já estava até treinando a conversa que ia ter com o meu chefe atual sobre a minha saída, motivada apenas pela busca de novos horizontes profissionais. 

Fui recebida pelo meu ex-professor, mas logo em seguida ele me deixou com o que seria o meu chefe imediato e com a coordenadora de projetos. Beleza, pouca coisa me assusta hoje em dia. Só que o fulaninho era um bom de um filho da puta, que fez de tudo para me constranger – e conseguiu. 

Como eu ainda estava no clima leve e descontraído da conversa que estava tendo com o meu ex-professor, achei até que o capeta estava sendo engraçadinho – não, ele estava sacaneando mesmo com a minha cara de tonha. Começou dizendo que não fazia idéia de onde ficava Jaçanã, o bairro onde moro. Eu disse que ficava longe de qualquer lugar e ele disse que também morava num lugar assim quando era solteiro, mas que melhorou de vida. Primeiro comentário infeliz. 

Daí, começou a me fazer perguntas absurdas sobre o sistema, como se fosse uma banca examinadora de doutorado em física quântica. Também me aplicou um teste escrito onde eu deveria qualificar de 0 a 5 o meu conhecimento dos módulos, sendo que eu seria cobrada através dessa pontuação, caso fosse contratada. Caçou o que eu pontuei como 5 e me fez uma pergunta simplesmente ridícula, sem noção, nada a ver, coisa que nem a prova de certificação da academia perguntou. 

Saí de lá meio mal - se fosse em outros tempos, com certeza, sairia chorando. Bom, caso eles me chamem, a resposta já tenho na ponta da língua: "Obrigada, não tenho mais interesse. A empresa não é o perfil que procuro para trabalhar. Passem bem."

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Imagem do dia

Todo arrebentado, mas sem perder a pose.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Acorda

Uma das maiores humilhações da minha vida foi ter sido demitida. Isso só aconteceu uma vez, assim que cheguei em São Paulo, no primeiro trabalho que arranjei. Mesmo ainda estando no período de experiência, aquilo soou pra mim como o cúmulo dos fracassos. Afinal, como alguém poderia me dispensar naquilo que me considero uma expert, ou seja, dedicação ao trabalho?

Bom, voltando ao planeta Terra, hoje cedo uma colega de trabalho veio se despedir de mim com os olhos inchados de chorar, pois acabara de ser dispensada. Eu já sabia que isso ia acontecer e até tentei dar uns toque pra ela. Mas a pouca idade e experiência, não a deixaram enxergar que deixar claro que o seu ócio no horário de trabalho é maior que a produção, que passar o dia mandando e-mails engraçadinhos para os colegas e que faltar todo dia seguinte aos jogos do Brasil não são uma boa ideia.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Olha pro céu, meu amor!

O meu melhor São João foi em 96, quando viajei com Andréa, uma grande amiga presente em minha vida até hoje, para Amargosa, a então coqueluche do forró na Bahia. Foi a minha primeira viagem a um point da moda, com direito à calça jeans de marca comprada às pressas no Iguatemi, moletom chique emprestado por minha avó e muita, muita história pra contar depois.

Para início de conversa, íamos de carona com a amiga da amiga de minha amiga que, ao ver a minha mala gigantesca disse que seria melhor se a colocássemos no carro que ia nos seguindo, que era do amigo do amigo do amigo dela. O detalhe é que esse pessoal estava enchendo a cara na casa de um deles e só sairiam dali umas três horas depois da gente. E naquela época não existia celular e mal sabíamos o endereço da casa onde íamos nos hospedar. Já não gostei desse papo, mas como sempre confiei muito na minha amiga, decidi seguir viagem mesmo assim.

A coisa começou a ficar feia quando a noite foi caindo, o frio em Amargosa beirando os 16 graus, todo mundo se arrumando pra ir aos shows e eu ali, retada da vida, esperando os meninos chegarem pra eu tomar banho e me trocar. A essa altura eu já estava dando patada no primeiro que olhasse pra mim e a minha vontade era só esperar o dia amanhecer pra eu pegar o primeiro ônibus de volta pra Salvador.

Como o meu drama era público, o resto da galera que alugou a casa junto conosco se solidarizou comigo e me emprestou roupas pra que eu usasse até a gente localizar os benditos portadores da minha valiosa mala. Teve de tudo: de bota tamanho 38 a calça jeans 46, passando por jaqueta PP. Eu estava uma coisa, mais parecia o boneco do Judas na sexta santa.

Pra encurtar a conversa, no final deu tudo certo: os meninos chegaram na cidade por volta da meia-noite e não sossegaram enquanto não me encontraram. Aí a festa já estava animada pra mim, que resolvi chutar o pau da barraca e ligar o dane-se. O dia raiou com todas nós, cada uma com seu pretê, dançando forró ao som de Dominguinhos, felizes por aquele ser apenas o primeiro de quatro dias de muita diversão.

Até tentamos repetir a dose no ano seguinte indo pro mesmo lugar, com as mesmas pessoas, nos hospedando na mesma casa, mas não foi tão legal como antes.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pedra no sapato

De vez em quando, alguns pequenos desastres domésticos me acontecem para que eu lembre que cozinha é lugar para poucos. Ontem eu consegui, em menos de cinco minutos, quebrar o copo do liquidificador, esmagar o dedão entre as portas da geladeira e do congelador, esquecer o arroz no fogo e derramar pó de café no chão. Pelo menos boa vontade eu tenho.

Vida que segue

Perdi meu tio e padrinho dia desses, por uma estupidez por parte dele: simplesmente abandonou os exames pós-câncer, foi viver a vida intensamente e se deu mal. Achou que tinha se curado, como se câncer fosse assim, uma gripe.

Explicando melhor: o negócio começou há três anos, como uma aftazinha na gengiva e ele, que era dentista, achando que era bobagem, só procurou ajuda médica quando só tinha uns 10% de chance de cura. 

O mais engraçado é que ele conseguiu reverter o quadro, com muita comemoração à base de acarajé na casa de Mainha, mas esqueceu de se manter alerta, deu de ombros para as revisões obrigatórias e só acordou em fevereiro passado, com a morte batendo na porta. Tentou correr atrás do prejuízo, mas era tarde demais: foram quatro meses definhando, com quase todos os órgãos tomados pelo maldito.

Sinceramente, até hoje eu não consigo acreditar que ele se foi. Dos irmãos de meu pai, era o mais próximo de nós, mesmo morando mais perto de Brasília que de Salvador. Era engraçado, bonito e inteligente e a última vez que nos falamos por telefone foi no meu aniversário, ele já com a voz muito fraca e irreconhecível. 

Ia fazer 50 anos em setembro e estava muito feliz no seu segundo casamento. Prefiro acreditar que ele está lá em Barreiras, no mesmo corre-corre de sempre, trabalhando em vários lugares, sem ter tempo pra dar notícias.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Coisamarlinda





























sexta-feira, 7 de maio de 2010

Príncipe encantado

Sinceramente, nem acredito que sobrevivi de 2004 a 2009, ou melhor, que consegui manter um pouco de sanidade na cachola. 

Quando olho pra trás e vejo o que era a minha vida, dá vontade de chorar. O pior é que eu achava que estava dando tudo de mim pra sair daquele inferno, mas hoje vejo que eu estava mesmo era confusa e não forte. Também estava triste, frustrada, desanimada, cansada. 

Foi um período em que ouvi que era burra, pretensiosa, mimada, escandalosa. Também ouvi que era feia, louca, desatenta, egoísta. Comecei a acreditar nisso tudo e me fechei num mundo meu e esquisito, onde nem espelho em minha casa tinha, onde vestia a primeira coisa que me viesse à mão, onde a vaidade morreu.

Uma vez, uma pessoa me perguntou quantas calças beges eu tinha e ficou muito sem graça quando eu disse que somente aquela, que vestia praticamente dia sim/dia não, revezando apenas com outra preta, essa sim, bem mais rodada até. 

Sapato, minha grande paixão, só usava dois. Os outros ficavam lá no fundo do armário, escondidos, esperando uma ocasião especial para usar. O detalhe é que essa ocasião nunca vinha e o mofo tomou conta de tudo. Perdi uns dois ou três pares pra fúria verde que se abateu sobre eles.

Mas passou. Se eu disser que o mérito é todo meu, mentira. Não é não. Meu love me acordou desse pesadelo, que parecia não ter mais fim. Me alertou que eu estava vivendo uma vida que não era minha, gostando de coisas que não tinham a ver comigo, esquecendo das que me faziam bem. Me encheu o saco até concluir que eu tinha entendido o recado.

Me mostra todo dia o que sente por mim, através da alegria estampada no seu rosto, quando chego em casa contando alguma das minhas travessuras ou quando me pega fazendo conta pra saber quanto vou poder gastar no Brás. Se diverte com os meus exageros, adora as minhas dietas loucas, estimula minhas fixações por sapato/bolsa/maquiagem/lingerie, tira sarro das músicas do meu IPod. Sabe que quando estou meio quieta é hora da fazer um balde de pipoca e que quando estou estressada, cai bem o bom e velho chocolate.

Entende muito bem quando o dia é de faxina braba e sai de baixo pra não sobrar uma vassoura em sua mão. Sabe que aos sábados, domingos e segundas, é ele quem lava os pratos, pois a unhas ainda estão glamurosas. E que precisa esperar pelo menos uns quinze minutos para irmos ao mercado, porque sim, mesmo sendo ali, não vou de chinelo e de moletom.

É, ômi. Sei mais viver sem você não.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Prefiro chocolate

Rivotril fez um estrago danado em minha memória. Chegou uma hora que eu pensei que estava emburrecendo, ficando abestalhada ou biruta, mas era o maldito querendo me dominar. Eu até que lembrava de coisas que tinha aprendido no passado, mas bloqueei completamente coisas novas.

O mais chato é ver que ele nem teve em mim esses efeitos maravilhosos que pregam por aí. No máximo fiquei mais corajosa e nunca ficava de ressaca, por mais que ultrapassasse as duas taças de vinho toleráveis. E só. O meu nível de otimismo não foi alterado em nada, a minha autoestima despencou, a ansiedade não aumentou nem diminuiu.

O duro mesmo foi tirar o maldito. Aí que eu vi o quanto é triste tentar resolver problema com remedinho. Paliativo é só uma forma de adiar problema, não tem jeito. Passei uma semana inteira pensando que ia enlouquecer de dor de cabeça, perdi o apetite e o sono. Virei um zumbi desnorteado, imagino o que sente a galera que pega pesado na cocaína.

Lá se vão nove meses sem tarja preta na vida e a minha maior vitória é ver que eu voltei. A autêntica Cynthia está de volta, renasceu, se livrou. Adeus, Rivotril. Até nunca mais.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

And you?


Aprendiz

Sim, já fui uma pessoa bem mais bobinha. Acreditava em tudo e em todos. Custava até entender que tinha levado uma rasteira ou que estava entrando numa fria. 

Sofria que dava dó quando a ficha caía. A malícia nunca foi o meu forte, nunca mesmo. Era a última a parar de falar com a falsa fofoqueira da sala na época da escola e também a última a entender que alguma sirigaita estava dando em cima de namorado meu.

Acho que isso se deve a uma imagem que eu teimava em sustentar, de menina boazinha, agradável, rodeada de amigos. Essa imagem veio lá da minha infância, nos causos de família, quando diziam que criança igual a mim não existia. Eu não chorava sem motivo, ia pra qualquer lugar sem reclamar, não pedia água, nem colo, nem lanche. Enfim, uma bonequinha.

O meu primeiro “não” veio bem tarde e foi muito difícil dele sair. Fiquei um tempão relembrando o motivo de eu ter que dizê-lo, com medo de ter sido injusta. Aconteceu o mesmo com os dez “nãos” seguintes, mas depois eu peguei a manha e primeiro eu nego pra depois aceitar alguma coisa. 

Primeiro a pessoa é má, pra depois eu concluir o contrário. Primeiro eu antipatizo pra depois virar amiga do peito.

O bom disso tudo é que minha vida mudou pra melhor depois que aprendi a ser um pouco miseravona.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sociologia

Faça um teste: quando estiver com alguém por perto, comece a cantar alguma música do nada, pare e verá que a pessoa continuará cantando a mesma música.

Maravilha

"... A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma..."

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Direto e reto

Não sou dona da verdade, mas sigo as minhas convicções. E me orgulho disso. Não tento catequizar ninguém, assim como estou dispensando conselhos fora de hora. Tenho até evitado entrar em discussões mais acaloradas sobre assuntos polêmicos pra não ouvir que sou radical ou coisa parecida. Porque calada eu não fico e entrar na briga ninguém quer.

Outro dia estavam falando sobre adoção e eu fui a única do grupo que assumiu não sentir a mínima vontade de adotar um filho. É pecado? Eu apenas disse que eu não adotaria uma criança, mas acho o gesto muito louvável. Bastou isso pra me metralharem de um sem números de razões para se adotar um menor abandonado. Mas ninguém entendeu que eu sabia de todas, só não sentia vontade fazer o mesmo. E pronto.

Isso é falta de amor ao próximo? Muito pelo contrário. Fico chocada com cada cena de estupidez humana que vejo diariamente, seja envolvendo crianças, idosos, mendigos e afins. Infelizmente, a única contribuição que posso dar para que o mundo mude é através das minhas convicções que, repito, não obrigo ninguém a concordar.

Se isso é ser egoísta, parem o mundo que eu quero descer.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eficiência

Ontem fui a uma feira internacional de tecnologia voltada à reabilitação de pessoas com deficiência. Fui prestigiar o meu primo e afilhado, que veio de Salvador, expor um software adaptável a celulares, criado por ele e seus sócios, que facilitará e muito a vida de pessoas cegas: a câmera do aparelho capta as cores e seus nomes podem ser ouvidos através de um sinal sonoro.

É nessas horas que vejo o quanto somos imbecis. Quantas vezes não fiquei muito chateada por estar acima do meu peso ideal, seja lá o que isso signifique? Quantas outras vezes não quis ter o corpo igual ao de alguma demente, capa de revista ou dançarina de programa de tv? Quanta bobagem pensamos e desejamos, sem nos darmos conta que o principal já está ali, quietinho, funcionando tão bem que sequer notamos a sua perfeição.

Vi muita criança sem braço e sem perna com seus pais atentos às novidades para facilitar a vida e amenizar o sofrimento de todo mundo. A Fiat montou um stand de modelos de carro adaptados e todas as demonstradoras eram deficientes físicas. Chamavam a atenção por serem lindas, talvez para que lembrássemos que a beleza não isenta ninguém de tragédias.

Moral da história é que eu estava mesmo precisando de um banho de realidade como este. Quem tem o presente de ter liberdade para fazer o que bem entende, do jeito que quer e a hora que quiser só tem o direito de ficar calado. E só.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

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Quando a gente começa a trabalhar com a cuca, passa a enxergar o trabalho braçal como descanso. Não quero tirar nenhuma onda de intelectual, até porque trabalho com tecnologia. Também não sou nenhuma geek - pelo menos ainda. Mas como o raciocínio lógico tem me consumido pelo menos oito horas por dia, chego em casa doida pra lavar prato, botar roupa na máquina, fazer sopa. E é assim que começo a me desligar do dia corrido e das responsabilidades que venho recebendo gradativamente no meu novo trabalho.

Nunca imaginei que um dia fosse me embaraçar no ramo de TI. Logo eu, ciências humanas na cara e no sangue, falante e que gosta de ver gente, passo os dias numa sala com mais 23 colegas – todos homens e concentrados - tentando encontrar soluções para os problemas dos aflitos e exigentes clientes. No começo era tanta novidade que tive que me segurar para não virar secretária da marmanjada: se o telefone tocava mais de duas vezes eu já puxava a ligação; se chegasse no banheiro e o papel estivesse no fim eu já ia em busca de um pacote novo e por aí vai.

Enfim, a lua-de-mel ainda não acabou e estou curtindo cada segundo dela. Como não fazia há muito tempo. Muito mesmo.

Oh, dó!

Certa vez, na onda da filosofia de botequim, eu e minha irmã discutíamos sobre os tipos de pessoas mais comuns: as folgadas (elas, sempre elas), as fracas, as fortes e por aí vai.

Já ouvi mais que sou forte do que fraca e nunca que sou folgada. Também aprendi que quando ouvimos muitas vezes a mesma coisa ao nosso respeito e por pessoas diferentes, é que é verdade. Portanto, agradeço muito a Deus por não ser folgada. 

Não muito por ser forte, já que na minha opinião, ao contrário do que pregam, só os fracos sobrevivem. Por quê? Porque tem sempre um forte lá na linha de frente levando bordoada de tudo o que é lado pra livrar a cara dos coitadinhos.

Acho muito engraçado o poder de comover que esses cachorrinhos abandonados tem. Mais ainda a cara de pau de demonstrar alívio quando vai um lá e livra o couro deles de alguma encrenca. E tiram onda de contribuintes quando tudo dá certo, viu? 

Só que estou vacinadíssima contra essa laia e estendo minha imunidade ao meu love, que apesar de ser mais velho e experiente, continuava fazendo o papel de gladiador eterno, sem muita malícia para direcionar a sua proteção.

Nessa arena tem até leão miando baixinho, espantado com o que tem visto, com medo do que será daqui pra frente. Dá até pena.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Solidariedade

Estou com pena de Deborah Secco. Com conhecimento de causa, sei bem como ela está se sentindo: um lixo, um fracasso, o pior dos seres humanos na Terra. E ela ainda tem que cumprir uma agenda lotada de celebridade, tendo que fazer de conta que está tudo sendo superado, tirar fotos, dar entrevistas... enfim, coitada.

Lembro muito bem como me senti quando me separei – mesmo não existindo mais o amor de antes, doeu muito. Doeu mais ainda o que veio depois: enquanto eu curtia o luto de minha derrota, via a pessoa com quem passei quase quatro anos de minha vida esfregando na minha fuça o que ele procurava numa mulher
Demorou até tudo ser realmente esquecido. Hoje até agradeço aos céus por ter passado por tal experiência, no mínimo ímpar. Acho também que mais cedo ou mais tarde a separação viria, pois eu também descobri o que procurava em um homem. Esse sim, o amor da minha vida e sem ele, seguramente, eu ficaria sem chão.

Portanto, Deborah Secco, não desanime. Você ainda vai dar boas e sinceras risadas disso tudo. Ô se vai.

terça-feira, 30 de março de 2010

Forever Young

Cada dia que passa a natureza faz questão de me lembrar que já não tenho mais 25 anos. É triste, muito triste. Sou uma gatinha de 35 com a mentalidade de senhora de 21.

Por exemplo, custei a entender que meu corpo não suporta mais usar salto alto dois dias seguidos. Joanete pinica até arrancar lágrimas dos olhos e na insistência, trava tudo: o pé não consegue dar uma passada sequer. 

Entram em cena as amigas sapatilhas. O meu atual arsenal é eclético e tem até uma para eventos mais chiques. Já não tiro mais sarro da cara de Mainha que tem um check-list do que um calçado deve ter para a compra não ser em vão. 

Perder noite durante a semana? Nem em sonho. Primeiro que fico logo com sono e com frio, não enxergo mais nada ao meu redor que não seja minha cama. Segundo que a época da caça se foi e com ela 90% dos motivos para virar a noite na rua. E pensar que na época da Band ia pra farras homéricas e ainda ia trabalhar no dia seguinte, linda e loira e usando salto. Mais de uma vez voltei de alguma festa, tomei banho e voltei no mesmo pé, sem nem mesmo dormir. Diziam que eu era ligada no 220. Eu retrucava que 220 era muito pouco para mim. Ui. 

Bebidinha também está fora do meu cardápio. Se bebo uma lata de cerveja já fico mole e a enxaqueca bate o ponto dela. A última vez que bebi fiquei dois dias de ressaca, sem sair da cama. Deprimente. E ainda tive que ouvir a galera tirando sarro e dizendo que era pra eu lembrar que cachaça não era mais água. Tá bom, tá anotado. 

Em relação a roupas também ando com certo receio de parecer uma tiazinha desassuntada e inconformada com o RG: estou deixando de lado certos modelos e cores, já que a linha que separa o ridículo da descontração é bem tênue. Prefiro não arriscar. 

E, pra fechar com chave de ouro, uma pessoa que não me via desde velhos carnavais disse que era pra eu me apressar se quisesse ter filhos, já que não tinha mais idade para esperar. É...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Erre não, bonita

Sou da linha que acredita que é cafona ser escravo da moda. Gosto de coisas harmônicas, cleans e atemporais, que além de serem mais bonitas não se corre o risco de derrapar feio no visual. Me interesso pelas novidades das estações para ver qual é a onda e depois faço as minhas adaptações pessoais.

Esmalte, por exemplo. Me rendi aos encantos do vermelho tomate outro dia - experimentei com a condição de que se me sentisse ridícula, tiraria imediatamente. Mas tenho observado que muita gente que aderiu a essa tendência, não está à vontade. Dá pra perceber até pela atitude que usou só porque está na moda. Feio, muito feio.

E roupa? Alguém pode me dizer quem mais além de Sabrina Sato pode usar essas calças com o fundo enooooorme sem fazer feio?

Tem mais:

Não é bem mais elegante vestir uma calça jeans para trabalhar do que meter um terninho que, além de estar gritando que é 300% poliéster, é dois números abaixo do seu? Tem dó, né? Custa assumir que não usa mais 38 desde que tinha 15 anos?

Sapato branco, bolsa branca, óculos brancos e cinto (hã?) branco? Please, não. Senta e deixa a vontade passar.

Se não sabe andar de salto alto, esquece. Vai de sapatilha, é melhor pra todo mundo.

Você tem uma veia fashionista e se acha super original nas misturas que faz? Se você não se chama Adriane Galisteu, não nasceu em Nova Iorque ou não trabalha na Globo, desista. É feio e você ainda vira piada por onde passa.

Acha lindas as bolsas das marcas mundialmente famosas e desfila por aí com a sua Louis Vuitton falsa? Com o mesmo valor você compra uma boa bolsa de couro com vida útil infinita, bem mais bonita e discreta.

E outra: se não tem dinheiro pra roupa boa, pelo menos disfarça a origem das suas compras. Mistura coisas do Brás ou da Zépa com alguma coisa porradona, pra deixar a galera na dúvida.

Copiou?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Cansaço

Senhor, dai-me paciência.

Avisa pro povo que pega metrô que não se deve ficar parado na porta atrapalhando quem quer entrar ou sair.

Avisa para os que conseguem entrar que é falta de educação fazer certas coisas em ambientes fechados, lotados e abafados.

Avisa também que pedir para segurar a mochila ou pasta de alguém, não tira pedaço.

Mostra praquela peruinha que ninguém é obrigado a ouvir sua conversa pelo celular e muito menos saber que ela precisa trocar o DIU semana que vem.

Fala praquele espertão engravatado que segurar a porta, além de perigoso, atrasa a vida de todo o sistema, conforme apelos insistentes do pobre maquinista.

Não esqueça também de dizer praquela senhorinha fofa que foi na 25 bater perna que o lugar destinado a ela, por lei, é o de cor azul e se estou no marrom, fico isenta dos seus olhares indignados e indiretas infames.

Diz praquela japa de um metro e quarenta e um que se nem ela tem culpa por não poder se segurar direito por não alcançar o ferro do teto, quem dirá eu – pede pra ela parar de me cotovelar a cada freada do trem.

Diz praquela caloura em enfermagem que o lado esquerdo das escadas rolantes são para as pessoas com pressa e não para ela ficar mais à vontade enquanto ouve música no seu Ipod.

E, muito importante isso, dá um puxão de orelha no casalzinho que não se decide se é pra agora ou se embrulha pra viagem.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Malandragem, dá um tempo

Um amigo do meu pai disse que quando ganhasse na Mega Sena teria o prazer de pegar um transatlântico super luxuoso, encher de muita comida e bebida de primeira, convidar todos os pobres que conhecia, soltar em alto mar e detonar uma bomba.

Eu já tive vontade de fazer a mesma coisa, só que com detalhes um pouco diferentes: no lugar do navio eu escolheria um trem desgovernado e no lugar de pobre eu colocaria gente folgada. Faria uma limpeza ao meu redor de gente que tem a incrível capacidade de ficar fiado no outro, seja pra morar, pra comer ou, em casos de extrema cara-de-pau, para fazer farra.

Olha, eu gosto muito de coisa boa. Muito mesmo. Já tive grana nessa vida e soube aproveitar cada centavo comendo, vestindo e morando bem. Mas fali e soube me adaptar rapidinho à nova situação. O gosto por coisas de primeira existe, mas a vontade de juntar dinheiro também. E se quero voltar a ter muito conforto, tenho que sacrificar alguns pequenos prazeres no momento.

E não é que 95% da humanidade parece pensar diferente? Tipo “já tive grana uma vez e ninguém apaga isso de mim” e continua na esbórnia, bem no estilo "viver de aparências", comendo ovo e arrotando caviar. 

Seja feliz, meu caro. Mas não mexe no meu bolso não que eu viro fera. Mexe não.

terça-feira, 16 de março de 2010

Gossip

Acho que tenho cara de séria ou de quem leva um segredo pro túmulo. Vira e mexe acho um que começa a abrir a vida para mim e eu me estresso, já que cria-se um pacto, um vínculo natural e eterno vem na cola e ser cúmplice também dá cadeia. 

O pior é ter que manter a linha de pessoa confiável, até as palavras devem ser medidas. Um saco.

Traições, armações, angústias, tudo cai nos meus ouvidos sem eu fazer força. O que leva uma pessoa a confiar em outra assim? Tipo, tem coisas que sequer psicólogo meu soube, a vida não tem graça sem reservas. Mas já ouvi de uma louca varrida que eu era a única pessoa que sabia de absolutamente tudo da sua vida – e eu não duvido. E nem é amiga minha, apenas conhecida.

Tudo bem que às vezes a gente está tão mal que um ouvido é o melhor remédio para amenizar o problema. Mas segredo de dois não é segredo e se me desse a louca e resolvesse abrir o bico, lares seriam desmoronados, conceitos ficariam arranhados, estruturas ficariam abaladas. Lógico que correria o risco de amanhecer com a boca cheia de formiga em alguma calçada da vida, mas o estrago também já tinha sido feito. 

De onde vem a coragem dessa gente?

Ressaca

Minha vida sempre foi mudando de profissão. Já fui um bocado de coisa: de professora substituta em escola pública a vendedora de joalheria, passando por secretária executiva e corretora de imóveis. Sem esquecer que me formei em relações públicas. Tudo a ver.

No fundo eu queria mesmo era ser jornalista. Primeiro, por gostar da coisa; segundo, por ter aversão à rotina. Minha mãe sonhava em ter filha médica e eu até prestei vestibular para medicina. Vá saber se o destino não estava pregando uma peça em mim? Mas passei para relações públicas, não rolou jornalismo, que na minha época só tinha na Federal, concorrência elevada ao quadrado. Achei que fazendo comunicação social daria tudo na mesma e com jeitinho eu ia acabar caindo em alguma redação de jornal. Ledo engano.

Os estágios que fiz foram dignos de vergonha: não acrescentavam academicamente em nada, só serviram pela grana, muito bem vinda quando se estuda numa das faculdades mais caras da cidade. Além do que tinha o ticket, devidamente vendido a 15% para ajudar no transporte e no lanche. Era isso: muito estudo e um trabalho fantasiado de estágio.

Quando me formei, fiquei um bom tempo desempregada e desanimada. Não foram poucas as vezes que me arrependi amargamente por não ter escolhido outra profissão. Quem tinha se formado em pedagogia ou letras já estava se matando em alguma escola da esquina. E eu, escolhendo a dedo os anúncios do domingo da A Tarde para mandar currículo. Sinceramente acreditava que havia um lugar ao sol para mim.

O tempo foi passando e a coisa foi ficando mais feia. Consegui trabalho num órgão do governo como prestadora de serviço que só me serviu para ganhar quinhentos conto por mês e tomar ódio pelo serviço público. A vontade de meter o diploma no lixo era diária, mas a esperança de ter valido a pena quatro anos de faculdade era maior e eu fui deixando as coisas andarem.

Muita água rolou até hoje. Nunca fiz o que gostaria realmente e, para não morrer de fome e ter alguma decência na vida, acabei mudando completamente de profissão pela enésima vez. Nada a ver com jornalismo. Não sei até quando isso vai durar. Ou se algum dia eu simplesmente vou me cansar disso tudo e quietar o facho. Talvez esse seja o sentido da vida, da minha vida.

E nem precisa mais ter diploma para ser jornalista. Ainda bem que existe blog.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ultimamente, vivo batendo em algumas teclas repetidas. Não por estar caducando e sim por ter encontrado aqui um meio de socar os docinhos de coco que me sacanearam ao longo da vida. É mais útil que ficar remoendo, o rancor até diminui de tamanho. E imagino que o risco de desenvolver alguma célula cancerígena cai pela metade.

Se tem uma raça que abomino é gente que se mostra muito prestativa e, mesmo te conhecendo há cinco minutos, já carrega água em cesto pra você. Desde que o mundo é mundo, sabemos que aí tem. O que diferencia é quanto tempo você vai precisar para descobrir as reais intenções da alma santa. Nesse intervalo, muita coisa pode rolar.

Nem sei o que é pior: se é fase da dúvida, quando a pessoa começa a derrapar no comportamento e planta uma pulga deste tamanho atrás da minha orelha ou se quando a máscara efetivamente cai. Como ainda sou uma pessoa que acredita no ser humano, passo a recapitular toda a minha convivência com a criatura em questão pra ver se não sou eu a maluca da história.

É muito triste constatar que sim, existe gente de todo tipo no mundo e elas estão ali, bem pertinho, com carinha de anjo, prontas para darem o bote, para pegarem no seu ponto fraco, para muitas vezes fazerem com você o que fizeram com ela, política do "passe adiante". 

Para estas pessoas, apresento o meu mais novo sistema farejador de falsidade. Está funcionando a todo vapor.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Evolução

Na época do ginásio, minha sala era dividida entre os cdfs, os antenados e a galera do fundão, que não necessariamente era a galera do mal. Um exemplo disso era eu, que sentava na última cadeira da fila, não por ser uma piveta vagaba, mas porque era o lugar mais confortável para a convivência pacífica com a minha então desconhecida síndrome do pânico.

Os cdfs, que eram três ou quatro, faziam jus ao título e pouco se importavam com o resto do mundo. Um dos integrantes até se assustou quando eu pedi o seu livro emprestado para fazer umas anotações. Juro que pensei que ia me deixar falando sozinha. Tinha uma que usava uns penteados meio esquisitos, umas tranças caídas pelos ombros, algo tipo Chispita forever.

Já a turminha antenada discutia filosoficamente, o vocabulário era diferenciado, as apresentações de trabalho eram repletas de analogias, viviam trocando dicas de Best Sellers entre eles. Também um círculo ultra fechado, até as roupas que usavam eram mais legais. Tiravam notas boas, discutiam em pé de igualdade com os professores, o gosto musical era refinado para a idade, enfim, eram respeitados e invejados por todos.

Pois bem, tirei um dia desses para dar uma fuçada no perfil dessas pessoas no Orkut. Fiquei pasma com o que vi e sem entender onde aqueles projetos de adultos brilhantes se esconderam. Muitos deles sequer fizeram faculdade, todos cometem erros grotescos de ortografia, postam fotos com poses idiotas e legendas idem. O que deu nesse povo, meu Deus?

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Eu quero!

Uma dica para os indecisos, aproveitando que meu níver tá nas bucha. Mais barato que perfume do Boticário. Sem esquecer que meu nome é com Y e TH.

Crise

Maior vexame quando, sem mais nem menos, meu chefe perguntou minha idade e eu comecei a gaguejar. Esqueci quantos anos tinha, não sabia o que responder. Ele até riu da minha cara, mas acabei lembrando que daqui a um bocadinho, entro na segunda metade da casa dos trinta. Como pode? Eu, logo eu, que outro dia comemorava animada a chegada da fase adulta aos 21, estou agora quase na casa dos quarenta!

Lembro muito bem de quando minha mãe tinha a idade que tenho hoje: treze anos de casada, duas filhas no currículo, cheia de história pra contar. Eu até que tenho umas duas dúzias de causos atrapalhados pelo caminho, mas não é a mesma coisa. Ela não ficava pesquisando na internet (nem tinha como) receitas de ração humana, não perdia o sono enquanto não comprava bolsinha de veludo cor-de-rosa, com apliques de gatinho e strass para colocar o IPod, não rodava meio mundo de camelô atrás de sombrinha com estampa de oncinha, não surtava se quebrasse a pontinha da unha do dedo mindinho do pé esquerdo.

Acorda, Cynthia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Vade retro

Sim, voltei a ter medo de olho gordo. Hoje tive provas mais do que óbvias de que o danado existe e está sempre mais perto do que a gente imagina. Tempos atrás, eu tinha uma colega de trabalho super fofa, mas que eu não podia dividir com ela nada de bom que acontecia comigo, porque a bicha botava um olho tão miserento que tudo desandava. Teve até uma vez em que eu estava começando um namoro e, ao passear de mãos dadas com o fulano num shopping, dei de cara com ela. Nem preciso dizer que, como num passe de mágica, foi tudo por água a baixo. Passei a esconder as coisas dela, porque o babado ali era da pesada.

Há um mês estou de trabalho novo, tudo lindo e maravilhoso, todo mundo se amando, coisa e tal. Passei a última semana no cliente e hoje, ao voltar pro escritório, revi a galerinha que está começando a se formar. Um dos integrantes dessa galerinha quase caiu duro quando viu que o meu note era um Vaio e não escondeu a sua indignação. Saímos todos para almoçar e agora, ao retornar, o que vejo? O meu mouse interno parou de funcionar assim, sem mais nem menos, de uma hora para outra, me deixando completamente na mão.

Não é de hoje que Marquinho vem me alertando quanto à minha falta de blindagem em relação a certas coisas. Diz sempre que sou como criança, ingênua e aberta a tudo e a todos. É, acho que tá na hora de voltar a usar certas cositas...

sábado, 16 de janeiro de 2010

What do you do?

Ultimamente, para matar o meu tempo durante as intermináveis horas que passo no trânsito de São Paulo, desenvolvi uma técnica no mínimo terapêutica: lembro das pessoas que me fizeram mal de alguma forma e imagino qual outra situação de vida cairia muito bem para elas. 

Por exemplo, imaginei minha ex-chefe, uma neta de árabe falida e que mantém a pose até a morte, vestida num belo jaleco encardido vendendo pastel na feira. Ficou até bonitinha a danada. 

Já o marido dela, que também teve o prazer de me chefiar, um ruivo esquelético que só se comunica em inglês até com o cachorro, imaginei sendo frentista de posto de gasolina. Ficou perfeito. 

O tio dele, o big boss, um senhor alto, filho de pai inglês e mãe americana, dono de um belo par de olhos azuis, imaginei como porteiro de algum prédio comercial decadente lá no centrão. Ficou muito fofo. 

O último contemplado foi o sócio minoritário da empresa, um argentino bipolar que pode ser gente fina ou cão chupando manga em questão de segundos. Esse eu imaginei como funcionário do metrô, daqueles que ficam confinados na cabine vendendo as passagens, todo de azul, com cara de poucos amigos. Ficou uma coisa. 

Como estou praticamente viciada nisso, vou ampliar o meu leque de personagens a serem presenteados com a minha imaginação. O negócio funciona. Eu recomendo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pee-pee

Quem me conhece sabe a quantidade de água que bebo por dia. E como não tenho nenhum problema de retenção de líquido, entrou/saiu, assim, automaticamente. Me sinto até meio esquisita quando essa rotina é quebrada. 

Levo exatas duas horas para ir ao trabalho e outras duas e vinte para voltar para casa, sem contar algum imprevisto ou dilúvio repentino. Ontem eu esqueci completamente que devo parar de beber água no meio da tarde e, às seis e quinze, quando estava indo para o ponto de ônibus, lembrei da bobeira que tinha dado. “Você só vai ficar com vontade de fazer xixi se lembrar que bebeu água até cinco minutos atrás”, era o meu mantra sem resultado, já que toda vez que eu mentalizava a palavra “xixi”, dava vontade de chorar. E não tinha nenhum maldito boteco por perto, nada que eu pudesse aliviar minha aflição. 

O ônibus chegou e a minha alegria em ver que tinha lugar para sentar foi tanta que por alguns segundos esqueci do meu problema. Como tudo tem seu preço, não foi por acaso que o ônibus estava vazio: o percurso que faz foi definido por algum bêbado com labirintite, tamanho é o arrodeio que dá. E minha vontade de fazer xixi me deixando louca. 

Atrás de mim um casal de amigos conversava animadamente, sendo que ele, além de cômico, era gay que falava mal de gay e imitava outros gays. Cada vez que eles caíam na gargalhada, eu achava que seria o meu fim. Quando o ônibus balançava, idem. Comecei a suar frio, a respirar fundo, a ficar ofegante, a parar de respirar. Ficava cinco minutos sentada de um lado, outros cinco de outro, para balancear sei lá o quê. 

Depois de intermináveis 1h20 de viagem, desci do ônibus que nem uma alucinada e quase fui atropelada por uma moto, pois quando vi que tinha uma lanchonete do outro lado da rua, não enxergava mais nada na minha frente. Com palavras desencontradas, perguntei pra garçonete se podia usar o banheiro e ela, toda solícita, me indicou o que ficava no salão de eventos, por ser mais limpo. Até parece que isso ia fazer alguma diferença naquela hora. Tudo resolvido e a primeira coisa que me veio à cabeça antes de esperar pelo segundo ônibus foi cantarolar “Singing in the rain”. Começava a garoar.

Oriente-se

A Voluntários não enche mais os meus olhos. Meu sonho agora é mergulhar no mar de camelôs da Rua Oriente, chegar de manhã cedinho e só sair depois que tiver surtado completamente diante de tanta pechincha.
Esse vuco-vuco começou há duas semanas, quando passei a pegar um ônibus que cruza o Brás de ponta a ponta, bem na hora da ferveção da feira atacadista. Como o número de pessoas é infinitamente superior a qualquer dia de carnaval em Salvador, não raramente o trânsito é lento e confuso. 

Da janela do busão eu já mapeei a região por inteiro: sei onde tem blusinhas de tecido ultra-mega-fashions por R$5,00 e com cores lindas, outras tantas que saem três por R$20,00, macacão de malha fresquinho e da moda por R$12,00 e vestidos, a minha fixação, por R$7,00. Isso porque foquei nos preços de varejo, pois mais de seis peças viram “atacado” e a coisa melhora e muito de figura. Com cem conto ali eu monto uma loja particular por trimestre, brincando. Bem que podíamos ter 14º, 15º, 16º...

Salute!


2010 chegou chegando. Sem eu nem ter feito as tradicionais e enfadonhas promessas pro ano novo, muita coisa começou a acontecer por conta própria. Taí a receita do sucesso. Qual terá sido o motivo para essa revolução toda?

Vejamos: em 2009 encerrou-se um tenebroso período da minha vida que teve de tudo, sem exagero. Muito lixo foi produzido, colocado para fora e alguns até reciclados. Tive algumas vitórias pessoais consideráveis, principalmente a de ter reencontrado o meu amor próprio e ter conquistado o de uma pessoa mais do que especial. Ainda deu tempo de estudar um pouquinho e também de me dar alguns meses de merecido descanso.

Agora sim as coisas parecem ter mais fluência. Janeiro mal ultrapassou a segunda quinzena e meu nível de produtividades está lá em cima.

Que assim seja.