quarta-feira, 30 de junho de 2010

Acorda

Uma das maiores humilhações da minha vida foi ter sido demitida. Isso só aconteceu uma vez, assim que cheguei em São Paulo, no primeiro trabalho que arranjei. Mesmo ainda estando no período de experiência, aquilo soou pra mim como o cúmulo dos fracassos. Afinal, como alguém poderia me dispensar naquilo que me considero uma expert, ou seja, dedicação ao trabalho?

Bom, voltando ao planeta Terra, hoje cedo uma colega de trabalho veio se despedir de mim com os olhos inchados de chorar, pois acabara de ser dispensada. Eu já sabia que isso ia acontecer e até tentei dar uns toque pra ela. Mas a pouca idade e experiência, não a deixaram enxergar que deixar claro que o seu ócio no horário de trabalho é maior que a produção, que passar o dia mandando e-mails engraçadinhos para os colegas e que faltar todo dia seguinte aos jogos do Brasil não são uma boa ideia.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Olha pro céu, meu amor!

O meu melhor São João foi em 96, quando viajei com Andréa, uma grande amiga presente em minha vida até hoje, para Amargosa, a então coqueluche do forró na Bahia. Foi a minha primeira viagem a um point da moda, com direito à calça jeans de marca comprada às pressas no Iguatemi, moletom chique emprestado por minha avó e muita, muita história pra contar depois.

Para início de conversa, íamos de carona com a amiga da amiga de minha amiga que, ao ver a minha mala gigantesca disse que seria melhor se a colocássemos no carro que ia nos seguindo, que era do amigo do amigo do amigo dela. O detalhe é que esse pessoal estava enchendo a cara na casa de um deles e só sairiam dali umas três horas depois da gente. E naquela época não existia celular e mal sabíamos o endereço da casa onde íamos nos hospedar. Já não gostei desse papo, mas como sempre confiei muito na minha amiga, decidi seguir viagem mesmo assim.

A coisa começou a ficar feia quando a noite foi caindo, o frio em Amargosa beirando os 16 graus, todo mundo se arrumando pra ir aos shows e eu ali, retada da vida, esperando os meninos chegarem pra eu tomar banho e me trocar. A essa altura eu já estava dando patada no primeiro que olhasse pra mim e a minha vontade era só esperar o dia amanhecer pra eu pegar o primeiro ônibus de volta pra Salvador.

Como o meu drama era público, o resto da galera que alugou a casa junto conosco se solidarizou comigo e me emprestou roupas pra que eu usasse até a gente localizar os benditos portadores da minha valiosa mala. Teve de tudo: de bota tamanho 38 a calça jeans 46, passando por jaqueta PP. Eu estava uma coisa, mais parecia o boneco do Judas na sexta santa.

Pra encurtar a conversa, no final deu tudo certo: os meninos chegaram na cidade por volta da meia-noite e não sossegaram enquanto não me encontraram. Aí a festa já estava animada pra mim, que resolvi chutar o pau da barraca e ligar o dane-se. O dia raiou com todas nós, cada uma com seu pretê, dançando forró ao som de Dominguinhos, felizes por aquele ser apenas o primeiro de quatro dias de muita diversão.

Até tentamos repetir a dose no ano seguinte indo pro mesmo lugar, com as mesmas pessoas, nos hospedando na mesma casa, mas não foi tão legal como antes.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pedra no sapato

De vez em quando, alguns pequenos desastres domésticos me acontecem para que eu lembre que cozinha é lugar para poucos. Ontem eu consegui, em menos de cinco minutos, quebrar o copo do liquidificador, esmagar o dedão entre as portas da geladeira e do congelador, esquecer o arroz no fogo e derramar pó de café no chão. Pelo menos boa vontade eu tenho.

Vida que segue

Perdi meu tio e padrinho dia desses, por uma estupidez por parte dele: simplesmente abandonou os exames pós-câncer, foi viver a vida intensamente e se deu mal. Achou que tinha se curado, como se câncer fosse assim, uma gripe.

Explicando melhor: o negócio começou há três anos, como uma aftazinha na gengiva e ele, que era dentista, achando que era bobagem, só procurou ajuda médica quando só tinha uns 10% de chance de cura. 

O mais engraçado é que ele conseguiu reverter o quadro, com muita comemoração à base de acarajé na casa de Mainha, mas esqueceu de se manter alerta, deu de ombros para as revisões obrigatórias e só acordou em fevereiro passado, com a morte batendo na porta. Tentou correr atrás do prejuízo, mas era tarde demais: foram quatro meses definhando, com quase todos os órgãos tomados pelo maldito.

Sinceramente, até hoje eu não consigo acreditar que ele se foi. Dos irmãos de meu pai, era o mais próximo de nós, mesmo morando mais perto de Brasília que de Salvador. Era engraçado, bonito e inteligente e a última vez que nos falamos por telefone foi no meu aniversário, ele já com a voz muito fraca e irreconhecível. 

Ia fazer 50 anos em setembro e estava muito feliz no seu segundo casamento. Prefiro acreditar que ele está lá em Barreiras, no mesmo corre-corre de sempre, trabalhando em vários lugares, sem ter tempo pra dar notícias.