sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Amém

“Ah, mãe, faz uma promessa pra ele voltar pra mim”, dizia do outro lado da linha uma voz aflita, de uma mulher bonita e inteligente, muito bem sucedida na carreira e com um currículo de conquistas invejável. 

A mãe, uma adorável senhorinha de quase 70 anos, disse que já tinha ido à missa naquele dia, mas que ia tentar ir à Igreja de Santo Expedito, que era mais poderoso ainda para certas questões. 

Já fui assim. Rezava pra tudo. Pro paquerinha ligar. Pra conseguir tirar nota boa na prova. Pra passar no vestibular. Pra não chover no final de semana. Também enchi muito o saco de Mainha pedindo para ela interceder por mim lá em riba. Ela dizia a mesma coisa: “Vou tentar São José agora. Vou fazer uma novena para ele que é infalível”. 

Semana de prova e eu ficava louca. Lembro até de uma promessa que fiz para Santo Antônio, prometendo entregar 100 cacetinhos no Hospital de Irmã Dulce caso conseguisse passar em administração, meu calo no segundo ano de faculdade. Fora uma outra que fiz num momento de extremo desespero infundado e que me rendeu não só algumas piadas como também uma despesa relativamente alta: entregar, durante sete anos seguidos, no dia de São Cosme, dois enxovais completos para bebês em alguma instituição. 

Não sei mais fazer nada disso. Até as minhas orações ficaram diferentes, meio customizadas e variando conforme o dia. Dei de presente todos os amuletos que fui juntando com o passar dos anos e que viraram minha marca registrada em alguns momentos da minha vida: uma medalhinha de Nossa Senhora da Salette, amarrada num cordãozinho azul; um cordão preto com um crucifixo de madeira; um terço de plástico branco; um anel de ouro escrito JESUS, que não tirava do dedo por nada nesse mundo e um escapulário de prata. Viraram acessórios, não estavam mais cumprindo o papel de protetores. 

Ainda bem que Mainha não lê esse blog...

sábado, 17 de outubro de 2009

Lisura

Sim, minha voz continua a mesma. Porém há um mês me rendi aos encantos da escova progessiva-definitiva-de-chocolate-de-seda-de-morango-de-luz-de-açúcar, ou seja lá qual for o seu verdadeiro nome. 

Eu poderia chamá-la de milagrosa. Poderia até ter um dia santo em sua homenagem. Eu ia ser a primeira na fila de fiéis para agradecer a bênção de ter as madeixas severamente colocadas no seu devido lugar. 

Confesso que senti certo receio de estar sendo alertada pelos céus de que o dia marcado para a transformação não era o ideal. Primeiro, porque ao chegar no salão, fui informada de que inexplicavelmente, a água tinha acabado. Como assim um salão sem água? A cabeleireira fez cara de isso-nunca-aconteceu-antes e eu saí de lá revoltada, pois o meu pensamento girava em torno da bendita escova que seria feita naquele dia. 

Tão revoltada que não vi que a porta de vidro estava fechada e acabei enfiando a cara na danada. E voltei pra casa sem escova, xingando os deuses pela falta de sorte e com um belo galo na testa. Como não costumo desistir facilmente das coisas, liguei pro salão meia hora depois de chegar em casa e, surpresa, minha sorte tinha virado: do outro lado da linha uma voz eufórica me dizia que a água milagrosamente tinha voltado e que era pra eu voltar com urgência para o salão. 

Claro que fui na velocidade da luz. Finalmente, depois de três horas e meia de produtos com cheiros indefiníveis e muito lava e seca de cabelo, pude ver no espelho o resultado de tanto sacrifício: cabelos lisos, sedosos, longos, domesticados, até rejuvenesci uns meses. Claro que o pós-operatório é um horror, com vários inconvenientes, como por exemplo, não poder, por três intermináveis dias, colocar os cabelos atrás da orelha (a parte mais difícil pra mim, já que tinha que escovar os dentes ajoelhada), prendê-los e muito menos molhá-los (leia-se não poder suar também). 

O saldo? Poder tomar chuva sem ficar parecendo Ravengar, lavar os cabelos e sair com eles molhados, assim, naturalmente, como as índias fazem. E o meu horário no salão já está marcado para daqui a três meses. Mais um evento no meu calendário anual.