quinta-feira, 28 de maio de 2009

As grifes variam

E não é que às vezes me pego sentindo inveja de pessoas que trabalham com coisas simples? Sim, inveja de balconistas de lanchonete. De frentistas. De atendentes de locadora. Essas pessoas são felizes e talvez nem saibam. Sair da caverna tem um preço. E não é em real que a gente paga. Muito menos ganhamos em dólar.

O mais engraçado foi saber que outras pessoas tinham a mesma sensação que eu. Tenho uma amiga bem-sucedida profissionalmente, com o salário bem mais robusto que o meu, cuja inveja vai mais além: ela queria mesmo era se mudar pra um interior bem brabo, produzir o próprio alimento e não ter nem luz elétrica em casa. Isso mesmo: plantar, colher, criar galinha, tirar leite, essas coisas. Ela chegou até a dar uma pirada básica dia desses e mandou currículo candidatando-se à vaga de recepcionista em um cursinho preparatório para concursos. “Ah, Cyn, cansei”. E eu, fofa?

O que será que nos leva a ter esses ataques de querer regredir na vida? Será que responsabilidade necessariamente tem que vir acompanhada de estresse? Qual o segredo para evitar esses rompantes? Por que não mandei meu resumé para o anúncio dO MELHOR EMPREGO DO MUNDO?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Constanziando

Sofro por antecipação e depois que tudo passa vejo que sou uma tonta. Essa semana passei por poucas e boas devido a uma suposta travessura que tinha cometido. Explicando: postei aqui a reprodução fiel de um diálogo surreal que tive com uma pessoa mais surreal ainda e essa pessoa, com a qual não tenho mais contato, ligou pro meu trabalho do nada, deixando dois perturbadores recados para que eu ligasse o quanto antes. 

Pronto, minha imaginação voou longe. Como essa pessoa é, digamos, barraqueira, apesar do berço esplêndido em que nasceu, já estava ensaiando como seriam as minhas respostas aos seus desaforos quando visse que eu tinha falado dela, mesmo sem ter citado seu nome. Tive taquicardia enquanto xerocava uns documentos pro meu chefe. Um calafrio quando um colega chegou na copa sem se fazer notar. Um princípio de chilique toda vez que o telefone tocava. Para mim todos já sabiam que eu ia ser processada.

Como o meu descontrole já beirava uma completa crise de nervos, procurei ajuda profissional: de um amigo com conhecimentos jurídicos, que sugeriu que eu falasse com mais outra amiga advogada e de Marquinho. Ambos foram unânimes nos conselhos: eu ia ouvir desaforo, perder um contato em potencial forever e pronto, já que a famosa conversa não tinha tido testemunhas, tinha sido pessoalmente e só as partes envolvidas sabiam dela. 

O meu amigo foi até mais longe dizendo que a hora do advogado dela devia ser tão cara que ia ficar tudo na base do bate-boca mesmo. Me senti a redatora-chefe de alguma Contigo! da vida e um leve sorriso brotou dos meus lábios. Mas o pavor continuava, ia e voltava. Por via das dúvidas, apaguei o post, fiz cara de parede e o meu coração de escritora frustrada não parava de se comover toda vez que lembrava de ato tão extremo.

Hoje a minha tortura acabou. A fulaninha ligou e tudo o que queria era apenas o número do telefone de uma famosa promoter, já que o que ela tinha estava desatualizado. Confesso que a probabilidade de ser apenas isso era quase nula e dei não só um suspiro aliviado quando desliguei como também demorei um bom tempo tentando me recompor. Um dia eu publico de novo o famoso diálogo e, como gosto de viver perigosamente, darei nomes aos bois. Daqui a uns dez, doze anos, talvez.