segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sinais

Quando entrei na faculdade, Tia Didi e Vovó queriam me dar um Fusca. Não aumentei muito a conversa pra não ficar feio pra mim, mas preferia andar de busão, sinceramente. Odiava aquela coisa barulhenta que nunca foi carro em minha concepção de aspirante a patricinha. 

Tinha uma colega de classe que tinha um azul, mas como ela tinha grana, era algo style. Nem ela aguentou a galera zombado do pobre e logo logo me apareceu com um Pointer. Anos e anos depois, minha irmã arranjou um paquerinha que foi buscá-la em casa com um Fusca bege. Eu tive uma crise de riso e tirei sarro da cara dela a semana inteira. 

Como Deus não gosta de nada mal feito, na semana seguinte foi o meu paquerinha que me apareceu com um bendito Fuscão vermelho sangue e, claro, fui alvo de minha irmã por mais de um mês, que dizia ter sido a vergonha dela mais light do que a minha, pela diferença de cores dos possantes dos nossos pretês. 

No ano passado, não me lembro bem quando e por qual motivo, comecei a sentir umas coisas estranhas toda vez que via um Fusca rodando na cidade: uma vontade de ter um, uma inveja de quem tinha, já me via até lavando o meu na porta de casa. Vi que o negócio estava ficando sério quando quase comprei um chaveiro super fofo, com uma miniatura do dito cujo estilizada, mas me contive a tempo. 

O pior de tudo é que pra todo canto que olho eu vejo Fusca, em plena São Paulo, em bairros nobres, periféricos, centrais, eles resolveram sair e desfilar na minha frente pra eu decidir qual será a cor e o ano do meu. Falei por alto dessa nóia pra minha irmã que disse: “Afe, Deus é mais. Compra um Uno, menina! Fusca, ninguém merece!”. 

Minha prima foi mais dura: “Nem invente de me buscar no aeroporto de Fusca, prefiro ir de ônibus”. Ontem, enchi o saco de Marquinho dizendo que quero porque quero um fusquete. Primeiro ele disse que um “fuca” sempre cai bem, mas depois disse que um Paliozinho, talvez, por que não? 

Ou seja, ninguém está entendendo o que passa na cabeça da pessoa aqui. Pra piorar, perguntei hoje a um amigo que não via há bastante tempo quais eram as novidades e ele me respondeu: “Comprei um Fusquinha bala, 79, bege, lindão, só vendo”.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

The Mammas and The Pappas

Sempre que posso, assisto Supernanny. É no mínimo curioso ver a coragem que as pessoas têm em expor a sua intimidade tão cruamente, talvez tentando emendar o que já está meio estragado. E nem ganham prêmios em dinheiro para tanto!

A super babá tem cara de poucos amigos, ou melhor, de governanta de internato suíço da década de 80. O seu objetivo é ensinar pais descontrolados a adestrarem seus pequenos capetinhas, com direito a frases prontas e atitudes idem. E, claro, recompensas, muitas, inúmeras, coloridas, sonoras, toda vez que alguém dá uma dentro. 

Não sou nenhuma doutora em psicopedagogia, mas quem não sabe que a mistura mães neuróticas versus pais ausentes é mais do que explosiva? O que essa galera pensa antes de ter filho? Mais de uma vez ouvi mães descabeladas dizerem que o problema estava nos pimpolhos que, provavelmente, vieram com algum defeito de fabricação ou algo parecido. 

E as caras de susto quando ouvem da hiper babá que quem tem responsabilidade sobre as crianças são os pais e não o contrário? Tudo bem, não sou mãe, falar é fácil. Mas querer discutir quem nasceu primeiro é o fim, né? E olha que estamos falando de famílias de classe média. Até hoje não vi nenhum favelado pedindo ajuda pra colocar oito filhos na coleira. Esses mandam carta, e não e-mail, pro Dia de Princesa. 

Aí sim, um programa de utilidade pública. Satisfação garantida.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

11/08

Vamos lá, dois anos em Sampa: 

- Viajei um bocadinho; 

- Ando dura, mas na fase de juntar grana; 

- Emagreci mais e mais; 

- Descobri quem realmente é amigo e quem não é; 

- Ganhei alguns sobrinhos; 

- Conheci Marquinho; 

- Ganhei mais sobrinhos, cunhadas, cunhados, concunhados, concunhadas e uma sogra abençoada; 

- Revi Mainha, Painho, Juley e Tia Didi;

- Fiquei noiva; 

- Tirei férias. 

 Enfim, sobrevivi.

Óinc-Óinc

Estávamos eu e uma colega conversando, quando a faxineira nos interrompeu meio aflita: “Cynthia, posso colocar uma lixeirinha sem tampa embaixo da pia do banheiro de vocês? É que com esse negócio de gripe, não adianta nada lavar as mãos e depois ter que pegar na tampa do lixo pra jogar a toalha de papel fora, né?”. 

Minha colega disse que o pior não era nem isso e sim a torneira – na faculdade onde ela estuda estão trocando todas por aquelas que têm sensor. Eu rebati dizendo que pior ainda era a maçaneta da porta, já que a gente lava a mão, desinfeta e acaba não adiantando nada. 

“O melhor mesmo é a gente se pegar com Deus”, disse a nossa adorável faxineira, com cara apavorada diante do pingue-pongue terrorista que acabava de presenciar.