quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Isso me Freud

Acho que se estivesse fazendo psicanálise, estaria jogando dinheiro fora. Meus sonhos hoje em dia são tão óbvios, que não ultrapassam o limite do que eu disse, fiz ou me fizeram durante o dia. Pronto, esses são os ingredientes do meu inconsciente. Onde está o meu porão, meu Deus??? Quero ele de volta já!!!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pré-Carnaval

- E aí, mainha? Como tá de carnaval aí?

- Uma depressão danada... Juliana veio trazer os abadás dela pra eu ajustar e lembrei de você e de Cecília... ô, saudade... aquele tempo não volta mais não, né? Eu me preocupava, mas me divertia...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

What?

Nunca me imaginei falando inglês. Era péssima na matéria e odiava todas as aulas. Levei bomba o ginásio inteiro. Na época da faculdade, alguns espíritos de porco me perguntavam quando eu ia tomar vergonha na cara e entrar num curso, pois era quase inconcebível uma estudante de comunicação social se formar e não ter pelo menos certo traquejo em outro idioma – na época estava começando a ficar no auge falar espanhol também.

Tempo vai, tempo vem, de repente uma proposta irrecusável de emprego. “Você fala inglês?”, me perguntou o diretor a quem eu deveria me reportar. Muito envergonhada, disse que não, mas que estava nos meus planos entrar num curso ainda naquele ano. Ele disse que isso era essencial, já que eu ia trabalhar no Centro Históricos de Salvador.

Era um vexame: eu era a chefe e todas as minhas subordinadas falavam outro idioma, um portunholzinho que fosse e eu, à margem, me achando um bagaço de gente. Os cursos de inglês que prestavam eram caríssimos, nenhum cabia no meu orçamento de recém-formada.

Minha vida era fazendo cotação e contas. Além disso, achava que jamais ia entrar na minha cabeça aquele emaranhado de sons – imaginava o caminho que meus neurônios iam ter que fazer quando eu tivesse que falar a palavra berinjela em inglês, assim, de supetão, caso precisasse. Só de pensar já ficava desanimada.

O mundo dá voltas, eu dou junto com ele. Num belo dia, conheci um italiano que não falava uma palavra em português e que morava em San Diego. Começamos a sair e já não me faltavam motivos pra dar o pontapé inicial e arregaçar as mangas. Comecei a estudar italiano feito uma louca. Comprei dicionários, gramáticas, guias de conversação, tomei aulas particulares com nativo e foi com grande susto e uma pitada de orgulho que me vi, na hora do aperto com um turista, falando e entendendo tudo o que ele me dizia. Pronto, passei a ser requisitada nos postos onde tinha mais turista italiano, pois estava pegando jeito com a coisa.

Cheguei à conclusão de que a partir daquele momento inglês pra mim ia ser fichinha. Venci a barreira do isso-não-é-para-mim, já que a gramática italiana é infinitamente mais rebuscada que a inglesa, e acabei me matriculando no bendito curso. E não é que me adaptei ao método e minha vida era ligando e desligando minha tecla SAP? Do dia pra noite passei a ser uma pessoa que se gabava ser trilíngue. Pena que não fiquei rica com isso. Pelo menos ainda.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Shanti

Nos conhecemos quando éramos casados, numa situação, no mínimo, insólita. Nessa mesma ocasião, descobri que era irmão de um colega de minha irmã. Percebi que me olhava de maneira intensa, mas achei que era por força das circunstâncias, já que era delegado.

Quase quatro anos depois, outra situação insólita fez com que nos reencontrássemos, mas agora estávamos ambos devidamente separados. Conversamos por horas a fio tentando encontrar algum motivo para que aquele encontro não fosse o último.

Descobri que ainda sabia fazer o joguinho da conquista e isso me fez bem naquele dia. Pediu para que eu anotasse o meu telefone num pedaço de papel e colocou com um cuidado sedutor no bolso da camisa. Não dormi naquela noite, obviamente.

Demorou para ligar a primeira vez. Parecia que o universo conspirava para que eu não o esquecesse, já que incríveis coincidências faziam com que eu conhecesse sempre alguém que tivesse alguma ligação com ele. Quando me ligou, parecíamos dois adolescentes sem saber o que falar. O joguinho continuava, era o que nos atraía. Chamava-o pelas duas primeiras sílabas do seu sobrenome, que era libanês. Ele gostava da ideia e me chamava do que desse na telha. De lôra a dodói, passando por maluquinha e senhora.

Demos muitas risadas juntos. Fizemos muitas loucuras também. Tinha um Fusca vermelho e quando a saudade batia, passava lá em casa no intervalo do plantão da delegacia. Eu dizia que ele me dava sorte e ele passava no meu trabalho só pra me dar um oi. Era curioso e eu adorava mandar torpedos enigmáticos, só porque sabia que me ligaria em seguida. Conheci um amigo de infância dele que se tornou também um grande amigo meu. Esse amigo dizia que tínhamos tudo a ver um com o outro e que torcia para que déssemos certo.

Não demos certo. Nossos encontros, desencontros e reencontros duraram exatos seis meses. Inesquecíveis meses, sem sombra de dúvida.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Matinée

Estou na fase de caça a eventos culturais gratuitos em São Paulo. Mostras de cinema, exposições, peças, tudo que for free ou, no máximo, dez conto, tô dentro. Primeiro, por estar sempre dura. Segundo, para conhecer pessoas, fazer novas amizades ou até algo mais. Nunca se sabe.

Esse lampejo cult, com uma pitada de segundas intenções, me deu na semana passada e fucei muito na internet até achar algo que interessasse. Vi que no Memorial da América Latina tem sessão de cinema todo santo dia e que cada mês eles abordam um tema diferente – o de janeiro era a cidade de São Paulo e os filmes exibidos tinham sido todos rodados total o parcialmente aqui.

Liguei para saber sobre detalhes dessas sessões e fui informada de que aos sábados elas começavam ao meio-dia. O filme a ser exibido no sábado passado era o Ensaio sobre a Cegueira. Achei que estava com muita sorte, já que além de ter lido o livro, queria muito saber como Meirelles tinha se atado na adaptação. Também queria fazer um paralelo com A Peste, de Camus, livro que comecei a ler recentemente e que tem mais ou menos o mesmo tema central.

Já no Memorial, soube que a sessão de cinema não era bem o que eu imaginava que fosse: eles disponibilizam três televisões de 29 polegadas cada uma, onde apenas seis pessoas podem assistir ao que está sendo exibido. Pelo menos o fone é individual. Decidi ficar, apesar de decepcionada. A atendente me instruiu a sentar logo em uma das cadeiras para garantir o meu lugar. Um homem sentou ao meu lado e começou a puxar conversa, dizendo que era frequentador assíduo de lá e descobrimos algumas afinidades em relação a gostos cinematográficos.

O papo dele começou a ficar esquisito. Disse que era visionário e que a paixão dele por cinema tem a ver com uns sonhos que tem desde a infância. Disse também que está fazendo algumas palestras sobre essas “visões” e que se eu quisesse ir, era só adicioná-lo no Orkut. Assim ele me deixaria um scrap dizendo a data e a hora do evento. A única coisa que ele já sabia era o preço da entrada: vinte pilas.

Terminada a sessão (filme muito bom, por sinal), fomos dar uma volta no pátio, onde pedi a ele que tirasse umas fotos minhas. Ele também pediu para que eu tirasse fotos dele, só que com minha câmera. Disse que era para eu não esquecer de adicioná-lo no Orkut, pois a gente tinha que combinar outra ida ao cinema ou algo mais.

Vá esperando, Cássio.