quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

What?

Nunca me imaginei falando inglês. Era péssima na matéria e odiava todas as aulas. Levei bomba o ginásio inteiro. Na época da faculdade, alguns espíritos de porco me perguntavam quando eu ia tomar vergonha na cara e entrar num curso, pois era quase inconcebível uma estudante de comunicação social se formar e não ter pelo menos certo traquejo em outro idioma – na época estava começando a ficar no auge falar espanhol também.

Tempo vai, tempo vem, de repente uma proposta irrecusável de emprego. “Você fala inglês?”, me perguntou o diretor a quem eu deveria me reportar. Muito envergonhada, disse que não, mas que estava nos meus planos entrar num curso ainda naquele ano. Ele disse que isso era essencial, já que eu ia trabalhar no Centro Históricos de Salvador.

Era um vexame: eu era a chefe e todas as minhas subordinadas falavam outro idioma, um portunholzinho que fosse e eu, à margem, me achando um bagaço de gente. Os cursos de inglês que prestavam eram caríssimos, nenhum cabia no meu orçamento de recém-formada.

Minha vida era fazendo cotação e contas. Além disso, achava que jamais ia entrar na minha cabeça aquele emaranhado de sons – imaginava o caminho que meus neurônios iam ter que fazer quando eu tivesse que falar a palavra berinjela em inglês, assim, de supetão, caso precisasse. Só de pensar já ficava desanimada.

O mundo dá voltas, eu dou junto com ele. Num belo dia, conheci um italiano que não falava uma palavra em português e que morava em San Diego. Começamos a sair e já não me faltavam motivos pra dar o pontapé inicial e arregaçar as mangas. Comecei a estudar italiano feito uma louca. Comprei dicionários, gramáticas, guias de conversação, tomei aulas particulares com nativo e foi com grande susto e uma pitada de orgulho que me vi, na hora do aperto com um turista, falando e entendendo tudo o que ele me dizia. Pronto, passei a ser requisitada nos postos onde tinha mais turista italiano, pois estava pegando jeito com a coisa.

Cheguei à conclusão de que a partir daquele momento inglês pra mim ia ser fichinha. Venci a barreira do isso-não-é-para-mim, já que a gramática italiana é infinitamente mais rebuscada que a inglesa, e acabei me matriculando no bendito curso. E não é que me adaptei ao método e minha vida era ligando e desligando minha tecla SAP? Do dia pra noite passei a ser uma pessoa que se gabava ser trilíngue. Pena que não fiquei rica com isso. Pelo menos ainda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Do mesmo modo, quem antes claudicava um pouco num caminho meio tortuoso, meio pedregoso do texto bloguístico, hoje ja deslisa de bicicleta assobiando de tranquilidade...