terça-feira, 16 de março de 2010

Ressaca

Minha vida sempre foi mudando de profissão. Já fui um bocado de coisa: de professora substituta em escola pública a vendedora de joalheria, passando por secretária executiva e corretora de imóveis. Sem esquecer que me formei em relações públicas. Tudo a ver.

No fundo eu queria mesmo era ser jornalista. Primeiro, por gostar da coisa; segundo, por ter aversão à rotina. Minha mãe sonhava em ter filha médica e eu até prestei vestibular para medicina. Vá saber se o destino não estava pregando uma peça em mim? Mas passei para relações públicas, não rolou jornalismo, que na minha época só tinha na Federal, concorrência elevada ao quadrado. Achei que fazendo comunicação social daria tudo na mesma e com jeitinho eu ia acabar caindo em alguma redação de jornal. Ledo engano.

Os estágios que fiz foram dignos de vergonha: não acrescentavam academicamente em nada, só serviram pela grana, muito bem vinda quando se estuda numa das faculdades mais caras da cidade. Além do que tinha o ticket, devidamente vendido a 15% para ajudar no transporte e no lanche. Era isso: muito estudo e um trabalho fantasiado de estágio.

Quando me formei, fiquei um bom tempo desempregada e desanimada. Não foram poucas as vezes que me arrependi amargamente por não ter escolhido outra profissão. Quem tinha se formado em pedagogia ou letras já estava se matando em alguma escola da esquina. E eu, escolhendo a dedo os anúncios do domingo da A Tarde para mandar currículo. Sinceramente acreditava que havia um lugar ao sol para mim.

O tempo foi passando e a coisa foi ficando mais feia. Consegui trabalho num órgão do governo como prestadora de serviço que só me serviu para ganhar quinhentos conto por mês e tomar ódio pelo serviço público. A vontade de meter o diploma no lixo era diária, mas a esperança de ter valido a pena quatro anos de faculdade era maior e eu fui deixando as coisas andarem.

Muita água rolou até hoje. Nunca fiz o que gostaria realmente e, para não morrer de fome e ter alguma decência na vida, acabei mudando completamente de profissão pela enésima vez. Nada a ver com jornalismo. Não sei até quando isso vai durar. Ou se algum dia eu simplesmente vou me cansar disso tudo e quietar o facho. Talvez esse seja o sentido da vida, da minha vida.

E nem precisa mais ter diploma para ser jornalista. Ainda bem que existe blog.

Nenhum comentário: