terça-feira, 29 de julho de 2008

Past Tense

Mal podia acreditar no e-mail que acabava de ler. Sim, era ele, um caso do passado que queria saber como eu estava depois de seis anos sem nenhum contato. O pior: estávamos na mesma cidade e ele nem imaginava. Pior ainda: ele queria me ver.

Adiei o que pude o tal reencontro, já que precisava emagrecer os eternos 5 kg a mais que toda mulher, em sã consciência, tem. Reservei a sala de ginástica do prédio pra semana inteira e já acordava pronta pra pegar no pesado. Passei a usar uma dieta mais saudável, tipo sopa nas três refeições intercalando com litros de água. Aboli o elevador da minha vida, pois subir escada deixa as pernas definidas e o fôlego em dia. Nesse meio tempo, SMS pra cá, SMS pra lá, tudo muito lindo e romântico. Tudo prometendo. Eu ia tirar o pé da lama.

Marcamos para sair num sábado de muito calor em São Paulo. Obviamente, não dormi na noite anterior,  pois dormindo as horas passam mais devagar. Às seis e meia eu já estava de pé pronta para ir ao shopping fazer umas comprinhas básicas, típicas de reencontros. Enquanto caminhava para a estação de metrô, tentava lembrar em qual shopping eu teria mais opções de Marisas, C&As, Renners e Riachuelos, já que todos os meus cartões estavam em dia bom. Decidi pelo Tatuapé e lá fui eu, morrendo de calor e com medo de acontecer alguma catástrofe que impedisse o meu esperadíssimo reencontro daquela noite. Comecei até a questionar a segurança dos metrôs e das escadas rolantes das grandes metrópoles, mas isso já é outra história.

Chegando lá, me vi perdida diante das novidades da coleção de verão que acabava de desembarcar em toda a cidade. Confesso que xinguei minha irmã umas cinco vezes seguidas, já que ela tinha mais o que fazer e não pôde me acompanhar na maratona de busca pelo look perfeito. Vi que um dos seguranças da Renner começou a me seguir discretamente, devido ao meu comportamento no mínimo estranho. Fazer o quê? Tive que voltar lá duas vezes pra experimentar as mesmas coisas, mas não tinha como explicá-lo que isso fazia parte do processo.

Enfim, quatro horas depois e bastante satisfeita com minhas compras, embora ansiosa sobre o que minha irmã diria do que eu acabara de comprar, lá fui eu ao salão, com hora devidamente marcada pelo telefone e pessoalmente, pronta para um verdadeiro extreme makeover. “E se ele não aparecer e não ligar nunca mais?”. “Ah, por mim. Quem perde é ele. E agora eu tenho um vestido poderoso e uma sandália lilás ultra-fashion”.

Bom, ele ligou dizendo que estava perdido na minha rua. Ele chegou no horário combinado. Ele continuava o de sempre, apesar de umas ruguinhas a mais. Usava o mesmo perfume. Fomos a uma badalada danceteria e eu, achando que todo o universo começava finalmente a conspirar a meu favor, me entreguei aos prazeres da carne com algumas dezenas de taças de vinho chileno e tomando conta da pista de dança. 

Lá pelas tantas, o convite sussurrado ao pé do ouvido: “E se fôssemos para outro lugar?” – “Yes, Sir!”, provavelmente foi o que respondi. “A vida é muita boa, a gente é que estraga a bichinha”, eu pensava. 

“Cynthia?”. Abro os olhos e me vejo com agulhas no braço, soro pra tudo o que era lado, um terrível mal-estar e o médico residente tentando me acordar. Havia desmaiado enquanto esperávamos o manobrista da danceteria trazer o carro e fui parar na emergência do Einstein. Pré-coma alcoólico. O meu partner? Esperou pela minha alta médica e me levou para casa. Ah e depois de um mês me mandou a fatura do hospital. 

R$1.500,00.

2 comentários:

Ádi disse...

Woooooooooooow E a Bela Adormecida teve um despertar de princesa! 5 estrelas não é para todos... E o príncipe virou sapo.

Cosa Uneca disse...

Como sempre...