sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Baby & Doll

Ao assistir a novela Selva de Pedra (exibição original, idos de 1970), minha mãe, que nem sonhava em conhecer o meu pai, ficou encantada com o nome que acabava de ouvir pela primeira vez: Cíntia. E olha que a personagem nem era protagonista da trama. Prometeu a si própria que assim se chamaria a sua primeira filha.

Passados uns três anos, casou e engravidou. Como trabalhava em uma famosa loja de departamentos na época e ultrassom para saber o sexo do bebê era luxo para poucos, começou a divulgar que tinha certeza de que esperava uma menina. Obviamente, começaram a rolar apostas de todo tipo: desde quem daria o primeiro par de brincos de ouro ou o primeiro biquíni até a primeira boneca, tudo era motivo para deixar a bichinha mais ansiosa.

Já com quase nove meses de gravidez, começaram a nascer os filhos de algumas conhecidas dela e todos eram meninos. Meu avô começou a dizer que “a lua tinha virado” e que era melhor ela se acostumar com a idéia de ter um Cíntio...

Foi lançada uma boneca Cynthia e um dos colegas de minha angustiada mãezinha, que até então não tinha se pronunciado em relação ao que ele apostaria se a intuição dela estivesse certa, disse que o presente dele seria a mais nova sensação da Estrela.

Março de 1975, véspera da Semana Santa. Dores, inchaços, contrações, a hora estava chegando. Lá vai a pobrezinha me colocar no mundo. Segundo ela, quando o médico disse: “É uma menina, Calmeci”, ela nem se surpreendeu, pois já sabia disso desde os primeiros momentos de gestação.

Com o ar de vitoriosa, começou a receber as primeiras visitas e, com elas, os presentes prometidos. Meu pai, que não queria ficar por baixo nessa história, ao ver que na caixa "Cíntia" estava grafada com Y e TH, não se fez de rogado: levou-a até o cartório e disse que queria o nome da filha dele igual ao da boneca.

Essa pequena travessura do meu querido paizinho me trouxe pelo menos dois benefícios: o primeiro deles ainda no processo de alfabetização, onde fui tomada por uma incrível confusão já que não entendia o porquê do meu nome ser escrito de forma incomum e com uma letra que eu não sabia pronunciar. O segundo e mais duradouro: minha vida ser um eterno “Soletrando”...

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