quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Vollare

Feriadão em São Paulo. Um amigo de longa data, que não me via há meses, fez uma proposta, no mínimo, indecente: “Que tal vir pra Teresópolis? Eu pago a sua passagem. Venha conhecer minha casa nova. Tudo free. E a Varig está em promoção”. Beleza. Não vou ficar em casa olhando pro teto e ainda vou conhecer uma cidade serrana no Rio.

Passagens compradas a preço realmente baixo – R$98,00 ida e volta, com taxas, porém via Guarulhos – imaginei que aproveitaria melhor a viagem se não precisasse despachar mala. Tive a brilhante ideia de comprar uma mochila e soquei tudo o que usaria em quatro dias de feriado na pobre coitada.

Na véspera da viagem, o motoboy do escritório onde trabalho me fez outra proposta indecente: “Meu, me dá cinquentinha que eu te levo e te busco no aeroporto de moto, rapidinho, serviço vip, pode crer”. Tentador, aceitei na hora.

Como alegria de pobre dura pouco, se é que ela existe, obviamente que passei maus bocados tanto na ida quanto na volta: na ida, além do troca-troca de filas no check-in, ainda tive que me desfazer de tudo o que fosse gel, creme ou líquido da minha bagagem, já que o vôo era internacional e eu estava apenas com minha inseparável mochila – nesse bolo foram um hidratante, um protetor solar zero bala da L´Oreal, desodorante, soro para lente de contato, xampu e toda tranqueira que mulher carrega na bolsa.

Também passei pelo vexame de ser chamada por uma agente da Polícia Federal perguntando se o objeto que estava na esteira me pertencia. O “objeto” era uma calcinha preta de renda. A fulana caiu quando eu estava na agonia de achar o último frasco de soro perdido na bendita mochila, que o raio-X teimava em acusar e não permitir que eu ultrapassasse a fronteira entre o inferno e o feriadão. Engraçado que o mesmo raio-X não detectou o aparelho de barbear e uma pinça de sobrancelha que, na minha opinião, são mais perigosos para um vôo do que inocentes cremezinhos pós 30.

A essa altura, o vôo já estava duas horas atrasado. Fiz amizade com todos da fila, trocamos confidências, telefones, tiramos fotos, tivemos até um princípio de crise na relação. Fomos instruídos a entrar no avião e, para nossa surpresa, mesmo com as turbinas ligadas e já na beira da pista, o bicho teve que voltar por causa de um defeito no sistema de refrigeração. Passamos exatas duas horas trancados dentro dele, num calor insuportável, porém num clima de festa de fim de ano de empresa, na maior confraternização.

A comoção foi geral quando o comandante disse que já íamos levantar vôo e que a viagem duraria 35 minutos. Quase choramos de tristeza.

E a volta? A volta teve as mesmíssimas coisas: atrasos, chateação, troca de confidências e de telefones. Quase não desço em Guarulhos. O vôo ia seguir para Paris.

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