quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

It´s raining men

Tenho um vizinho gay, que já virou amigo de infância e que me chama de Shirley. É um fofo mesmo quando bate na minha porta cedo, quase sempre aos sábados, comigo ainda de pijama e tonta de sono. Fica lá em casa falando das aventuras da noite anterior enquanto eu tomo café. Adora quando faço faxina, pois diz que ama cheiro de limpeza. Vive abrindo minha geladeira, se olhando de perfil e sem camisa no espelho do meu banheiro e me chamando pra sair. “Vamos, gata. Você não vai se arrepender. Um monte de bofe pra você escolher”. Eu nunca fui, já que tenho que seguir à risca meu plano de máxima contenção de despesas.

É o meu faz-tudo: se dá pau na minha antena, é só gritar que ele me socorre. Me prometeu de pés juntos que hoje ele coloca o meu mural de fotos na parede, já que não tenho a mínima habilidade com furadeiras, parafusos e afins. Me deu também um criado-mudo de madeira lindo, precisando apenas de uma pintura. Disse que vamos fazer isso no sábado. Nada abala a disposição dele.

Fez caras e bocas quando se bateu no corredor com um paquerinha meu. Disse que eu tinha que segurar aquele Deus de qualquer maneira. Não consegui. Também vive dizendo que minha pele e o meu cabelo estão ótimos, que eu sou maravilhosa, que eu sou um arraso. Mas também não se intimida em me chamar de cabeção quando falo alguma bobagem.

Ontem, cheguei exausta do trabalho, e lá estava ele me esperando, tomando iogurte light. Está numa dieta rigorosa para ficar sarado até o carnaval. Disse que ia me levar pro paraíso na Terra, ou seja, a academia onde malha todo santo dia. Não me deixou sequer trocar de roupa, pois disse que assim eu ia escapar dele. Lá fui eu, de calça social e scarpin, acompanhar a figuraça suar a camisa.

Realmente, eu me senti como se estivesse no paraíso: gente bonita, com cara de rica, todo mundo feliz, com corpos maravilhosos, transbordando saúde e disposição. E eu lendo uma Caras antiga, esparramada num pufe e imaginando como deveria ser a vida daquelas pessoas fora dali. O meu amigo não só levantava peso como também me mandava beijinhos pelo espelho. Depois começou a falar alto, fazendo sinal para que eu visse que ele estava falando com um ex-ficante, que parecia ter saído das telas de Hollywood.

Disse que vai conseguir uma aula grátis pra mim. E que não vou me arrepender. Será?

2 comentários:

Anônimo disse...

Já é uma cronista formada.

Mas existe aqui uma questão, daquelas que dão discussões blogais infinitas: nunca mais chame um homem de fofo, ainda que ele professe o amor que não ousa dizer o nome!

Cosa Uneca disse...

Atitudes fofas, homens fofos. E ponto final.