quinta-feira, 19 de março de 2009

Trancos e Barrancos

Não seria exagero se eu dissesse que já nasci com síndrome do pânico. Desde que me entendo por gente, tenho uma relação estreita com esse raio de doença que não é doença – é coisa da nossa cabeça, no popular. Acho que fui uma das poucas da família a nascer de parto normal por ter tido alguma crise de claustrofobia ainda dentro da barriga de minha mãe.

Dizem que passei a ter os primeiros sintomas estranhos quando tinha uns cinco anos. A minha então pediatra diagnosticou pressão acima do normal para a idade, muito provavelmente gerada pelo abalo emocional causado pelo presente que acabava de ganhar: minha irmã. Argumento bastante plausível, já que reinava soberana e absoluta como primogênita e queridinha das titias, titios, vovó e vovô. Plausível, porém refutável, já que minha vida era importunando meus pais para ganhar um irmãozinho ou irmãzinha, como qualquer criança em sã consciência faz. Até o nome dela quem escolheu fui eu.

A coisa começou a ficar feia mesmo quando eu estava entre os oito e nove anos: os sintomas passaram a ser mais barra pesada e minha vida virou um verdadeiro caos. Tinha medo de ficar só, não suportava lugares cheios, ficava tonta só de ver uma roda gigante pela televisão. Tinha crises em filas de supermercado, dentro de ônibus, em festas, na sala de aula, na missa. Ninguém sabia lidar com aquilo, já que a bateria infindável de exames que eu fazia não dava nada de anormal. Cheguei a rezar para que desse alguma coisa, grave que fosse, pois assim eu daria nome aos bois.

Passei boa parte da vida fazendo tratamentos com remédios e terapias. Minha obsessão era descobrir o porquê daquilo tudo e alguma forma de me livrar daquele inferno. Minha família e meus amigos me ajudaram bastante, cada um ao seu modo, mas as respostas só começaram a chegar depois que me juntei ao inimigo, consegui encará-lo de frente lendo tudo sobre o assunto e, principalmente, falando a respeito – até então isso era tabu. Lembro da vez em que tive um dos “chiliques” na plateia de um show folclórico em Salvador, ao acompanhar um amigo italiano. Depois que consegui me acalmar, ele simplesmente me disse: “Cynthia, mulheres chiques passam mal”.

Hoje eu tenho crises mais espaçadas, com duração menor e perfeitamente controláveis. Descobri a possível causa de como tudo começou e isso foi um salto significativo em minha vida: moro só, na maior cidade do Brasil, longe da minha família e dos meus amigos. A resposta, como sempre, estava dentro de mim, bem escondidinha, o tempo todo. Sacana ela, né?

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