sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sexo e as cidades e as mulheres

Eu adoro Sex and the City. Desde a primeira vez em que vi, foi identificação total. Passei por pelo menos 75% das situações ilustradas ali. Virei fã e vi que mulher é bicho doido mesmo, seja ela nordestina-cabra-da-peste ou novaiorquina ultra-cosmopolita. Volta e meia eu e um amigo conversamos sobre isso e ele tem uma opinião distorcida sobre a essência da série. O mesmo amigo que me abriu os olhos sobre a eterna discussão se Capitu traiu ou não Bentinho não consegue entender a mensagem implícita nas histórias do famoso quarteto de Manhattan.

Cicarelli até deu uma entrevista dizendo que a vida não era nenhum Sex and the City. Claro que é, fofa. Qual mulher nunca se apaixonou pelo cara errado, nunca ficou em casa num sábado à noite por estar completamente dura ou nunca ficou ao lado do telefone esperando a prometida ligação do fulaninho? Isso não é específico de classe social nem do tipo de vida que você leva. É um mal dos tempos modernos. Temos muito e acabamos com nada.

“Ah, mas em Sex and the City a vida é cheia de glamour, com festas de arromba todos os dias” – mentira. Existem dois ambientes-chave na série: o apartamento de Carrie, nada glamuroso por sinal, de onde ela escreve sua coluna, e o café onde elas se encontram aos sábados pela manhã para colocarem o papo em dia. Vários episódios se passam em lugares comuns, durante o dia, com as meninas fazendo coisas banais. “E o consumismo exagerado?” – ué: até eu, que sou uma Zé Ninguém, já me dei a certos luxos, como pagar uma pequena fortuna por um sapato azul e depois ter que desembolsar o dobro por uma bolsa que combinasse com o dito cujo. É algo que só acontece com executivas bem-sucedidas? Quantas Carries, Charlottes, Samanthas e Mirandas existem no subúrbio de Salvador? Muitas, viu? Cada uma no seu universo, com os mesmo anseios, dúvidas, conquistas e frustrações. Tudo proporcional.

O foco de tudo isso é a famosa crise dos trinta anos em mulheres que chegaram a essa idade sem terem um relacionamento amoroso estável, nada a ver com escolhas entre carreira e amor. O que é retratado é que muita mulher está sozinha porque quer: ou porque não deu bola para aquele colega nerd da faculdade que arrastava um bonde por ela, ou porque achou que aquele cara legal, amigo de um amigo, não seria seu par ideal por ser três centímetros mais baixo do que ela. A forma como o curioso e indecifrável mundo feminino é abordado é que dá o tom da coisa e pouca gente se dá conta disso, eu acho.

Um recado ao meu amigo: te empresto minha coleção inteira e você tira as suas próprias conclusões. Viu?

11 comentários:

Anônimo disse...

Bacana este, hein?
Mas olha: o seu ponto de vista é (1) o seriado retrata uma mulher acima da historicidade, a mulher em si mesma, em relação a esta situação, que seria própria de uma natureza feminina, em qualquer tempo e lugar ou

(2) o seriado mostra um problema comum a toda mulher contemporânea, ao menos ocidental, e o equívoco estaria em reduzir a dificuldade em relação a um grupo social e regional (executivas novaiorquinas) específico?

Pergunto isso porque em umas passagens, você diz: "mulher é bicho doido mesmo" e fala em "natureza feminina". Dizendo assim, não se trata de nada histórico, contemporâneo. Em outros fala, no entanto, em "mal dos tempos modernos", e com isso temos a posição contrária.

Existe uma opção em relação a esses pontos ou você pensa numa articulação de uma natureza feminina, que necessariamente teria problemas assim, com uma situação que os favorece particularmente, ou, ao menos, de um modo que nos interessa particularmente?

Anônimo disse...

"Temos muito e acabamos com nada"

Uma frase brilhante como essa tem que ser mais explorada, em novos posts. Isso dá muitos textos maneiros.

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Pra encerrar, uma opinião masculina: Maranda tem mesmo no formoso subúrbio de Salvador... não tem é Mirandinha, o que é uma pena, porque aquele sim era bom, viu? que ponta! pena que quebrou a perna, coitado... :P

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Ainda não sei se aceito a oferta do dvd... é sempre mais fácil analisar o que a gente não conhece... e aquelas bichas branquelas são muito feiosas, Deus é +... :P

Cosa Uneca disse...

Sr. Sabidão,

reCAPITUlemos, então:

sua interpretação nº 2 é perfeita, é exatamente essa a visão que tenho sobre a série. Não tenho cacife antropológico para falar de questões femininas e/ou feministas, porém, me arrisco a falar sobre o "bicho-mulher", com os seus trinta e poucos anos, apenas como observadora leiga do comportamento humano. Dando um exemplo simplório do que quero dizer, existe coisa mais absurda do que um homem dizer que não telefonou para uma mulher porque não teve tempo? E nós, mulheres de trinta e poucos anos, não vemos isso como um óbvio EU NÃO LIGUEI PORQUE NÃO ESTAVA QUERENDO FALAR COM VOCÊ; muito pelo contrário, fazemos NOSSAS contas telefônicas irem às alturas, enchendo os ouvidos de nossas amadas amigas confidentes, tentando em vão interpretar o que está mais do que dito. Isso é específico de alguma classe social? Não. O que nos falta? Parar de achar que o fulaninho não ligou ou porque não teve tempo (tadinho! não vai nem ao banheiro!), ou porque foi atacado por um grupo terrorista que saqueou todos os seus pertences e ainda por cima fez uma lavagem cerebral nele; afinal de contas o pobrezinho sequer lembra mais como te achar... Achar e ser achado com facilidade é a uma das grandes conquistas dos tempos atuais, concorda?

Cosa Uneca disse...

Xi, esqueci que de Miranda você entende...rs...
Sim, temos muita informação, muitos sinais que nos dizem "Hei, sai dessa, é uma roubada" e continuamos insistindo nos mesmos erros. Ou você acha que não?
Ah, outra coisa: se quiser assistir, tem que ser lá em casa, viu? Morro de ciúmes dos meus DVDs...

Anônimo disse...

Tá. Problema da época, que existe lá com suas nuances tanto à sombra de N. Senhora do Dólar quanto na Sagrada Colina. O seriado em si não sustenta idéia alguma de opção preferencial pelos cobres em detrimento de Amor. Pode até acontecer, mas será incidental, não essencial.

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Questão: por que a imprensa especializada em geral, e muita gente, faz então a leitura equivocada e redutora que você refutou com facilidade?

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De uma coisa discordo e com gosto:

" Achar e ser achado com facilidade é a uma das grandes conquistas dos tempos atuais, concorda?
Não! Não!! Não!!! Por tudo que é mais sagrado!!!! e por tudo que é menos sagrado também!!! essa é uma das maiores tragédias da época hodierna, uma de suas ruínas!!! eu odeio telefone acima de todas as coisas.
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E só o que faltava sair de Nova Eyquem pra ver fita de galega...:P

Cosa Uneca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cosa Uneca disse...

Questão: por que a imprensa especializada em geral, e muita gente, faz então a leitura equivocada e redutora que você refutou com facilidade?

Resposta: porque é mais fácil, vende mais, fica com ar de contos de fadas para adultos, mais engraçadinho.

Anônimo disse...

Como uma legítima Miranda, posso atestar categoricamente que em Salvador há focos de Mirandas que vai da Barra à Cajazeiras zil. Nós da Mirandagem estamos em toda parte. Para as mulheres não há muita ilusão sobre o porquê do telefone não tocar no dia seguinte. O que acontece é que nós nos acreditamos poderesas e capazes de mudar qualquer coisa pra fique do jeito que queremos. Funciona bem assim: Como aquele projeto, ou melhor, esboço da espécie masculina ousa ME ignorar? Hã...Quem é que dita as regras por aqui? Afinal é a mim que cabe o veredicto final. O consumismo é a busca pelo amor, pela aceitação do outro. Isso pq o indivíduo é tão exigente que não se ama ou aceita e literalmente compra tudo o que a mídia estabelece como degrau pra que ele chegue mais próximo do que é admirado, bem aceito, enfim, da perfeição. O consumismo não é um mal feminino. Afinal de contas o Mr. Big apesar de ser um bobão mas como tem o corte de cabelo perfeito, indumentárias impecáveis, o carro certo, e a postura blazé, é um gentleman então. Ele é um típico representante do glamour masculino. Quantos aspirantes a Mr. Big existem por aí?

Anônimo disse...

Mirandagem, dá um tempo...

Anônimo disse...

agora quero um post sobre a trindade Moreira, Bezerra e eu da Silva...pode ir pesquisar.

Cosa Uneca disse...

É, preciso de inspiração urgentemente...