quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Welcome back

Éramos unha e carne, lá pelos idos de 1992, quando nos conhecemos no cursinho pré-vestibular que frequentávamos em turnos opostos. Vimos que, além dos amigos em comum, tínhamos também coisas em comum e a amizade foi se fortalecendo cada vez mais.

Eu era a estabanada e ele o sensato. Frequentava a minha casa, era meu personal trainer, confidente, conselheiro. Ninguém entendia essa amizade pura, genuína, esse amor fraternal que existia entre nós e logo os boatos de que estaríamos tendo algo mais se espalhou entre os nossos conhecidos. Não ligamos.

Arquiteto autodidata nato, talentosíssimo, trabalhava num escritório fazendo projetos pros outros assinarem. Chegou até a fazer um projeto de casa de praia pra minha tia. Para ele eu falei todas as agruras de uma adolescente confusa e que estava entrando na maioridade.

Eu também ouvia seus anseios, sonhos e preocupações. A gente não entendia como que a vida podia ser tão injusta, às vezes, com gente batalhadora, tipo nós.

Passei no vestibular, ele não. Arquitetura, na época, só tinha na Federal e ele teria ainda um longo percurso de estudos para ficar no páreo da concorrência. Continuamos muito amigos, ele me acompanhando nos shows e festinhas típicas da época de calouros.

Um belo dia em que eu não estava em minha casa e ele estava, pois trabalhou um período com meu pai, falou alguma coisa sobre eu ser ingênua e ainda ter muito o que aprender com a vida. Não gostei quando soube desta conversa, não sei exatamente o que não me caiu bem em ouvi-la. Soltei os cachorros em cima dele, sem chance de defesa. Deixei claro que ali acabava a nossa amizade. O orgulho cego fez com que eu, do dia pra noite, literalmente, o tirasse de vez da minha vida.

O tempo foi passando e sempre, lá um dia, eu lembrava dele. Sempre tive muita vontade de reencontrá-lo para tentar um pedido de perdão. Há uns dias consegui, finalmente, o contato de uma amiga em comum que tínhamos na época e fiquei muito feliz em ver que ele era seu contato no Facebook.

Mandei solicitação de amizade cheia de receios, achando que ele, no mínimo, ignoraria. Foi com muita alegria e surpresa que recebi uma mensagem sua e entendi que o meu ato impulsivo também tinha deixado marcas do lado de lá. Pedi perdão, ele me perdoou, botamos a conversa toda em dia e a sensação de ter uma pessoa tão cara de volta ao meu círculo é indescritível.

Hoje ele faz 50 anos, está com a vida totalmente diferente da que tinha naquela época, mas continua tendo um quê daquele Agnaldo lá de trás, meu grande e bom amigo de todas as horas, Agnaldo, o Van Damme da nossa tchurma.